Santo Ofício: A Cátedra de São Pedro: Trono do Papa e símbolo da infalibilidade



Por Victor Hugo Toniolo


Sentado em uma simples cadeira de carvalho, São Pedro presidia as reuniões da primitiva Igreja. Ao longo dos séculos, essa preciosa relíquia foi crescendo em valor e significado. 


Nenhum transeunte parecia dar qualquer atenção àquele judeu de aspecto grave que subia com passo firme uma rua do Monte Aventino, em Roma, no ano 54 da Era Cristã.


Entretanto, poucos séculos depois, de todas as partes do mundo acorreriam a essa cidade imperadores, reis, príncipes, potentados e, sobretudo, multidões incontáveis de fiéis para oscular os pés de uma imagem de bronze desse varão até então desconhecido e quase desprezado pela Roma pagã. Pois fora a ele que o próprio Deus dissera: “Tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus” (Mt 16,19). 


Sim, era o Apóstolo Pedro que retornava à Capital do Império para ali estabelecer o governo supremo da Santa Igreja. 


“Saudai Prisca e Áquila” 


Provavelmente o acompanhavam alguns cristãos, entre os quais Áquila e sua esposa Prisca, batizados por ele poucos anos antes. Na Epístola aos Romanos, São Paulo faz a este casal a seguinte referência altamente elogiosa: “Saudai Prisca e Áquila, meus cooperadores em Cristo Jesus; pela minha vida eles expuseram as suas cabeças. E isso lhes agradeço, não só eu, mas também todas as igrejas dos gentios. Saudai também a comunidade que se reúne em sua casa” (Rom 16,3-5). 


Irrigada pelo sangue dos primeiros mártires, a evangelização deitava fundas raízes nas almas e se difundia rapidamente por todo o orbe. Mas não existiam ainda edifícios sagrados para a celebração do culto divino, de modo que esta se fazia em residências particulares. 


Assim, Áquila e Prisca tiveram o privilégio incomparável de acolher em seu lar a comunidade cristã. Ali São Pedro pregava, instruía, celebrava a Eucaristia. Dessa modesta casa governava ele a Igreja, por toda parte florescente, apesar dos obstáculos levantados pelos inimigos da Luz. 


Era uma cadeira simples, de carvalho 


Tomada de enlevo e veneração pelo Príncipe dos Apóstolos, Prisca reservou para uso exclusivo dele a melhor cadeira da casa. Nela sentava-se o Santo para presidir as reuniões da comunidade. 


Após a morte do Apóstolo, essa cadeira tornou-se objeto de especial veneração dos cristãos, como preciosa evocação do seu ensinamento. Passaram logo a denominá-la de “cátedra”, termo grego que designa a cadeira alta dos professores, símbolo do magistério. 


Era primitivamente uma peça bem simples, de carvalho. No correr do tempo, algumas partes deterioradas foram restauradas ou reforçadas com madeira de acácia. Por fim, foi ornada com alto-relevos de marfim, representando diferentes temas profanos. 


Um altar-relicário


Há testemunhos e documentos suficientes para acompanhar sua história desde fins do século II até nossos dias.


Tertuliano e São Cipriano atestam que em seu tempo (fim do séc. II e início do séc. III) essa cátedra era conservada em Roma como símbolo da Primazia dos Bispos da urbe imperial. 


Por volta do século IV, colocada no batistério da Basílica de São Pedro, era exposta à veneração dos fiéis nos dias 18 de janeiro e 22 de fevereiro. Durante toda a Idade Média ela foi conservada na Basílica do Vaticano, sendo usada para a entronização do Soberano Pontífice. 


Em 1657 o Papa Alexandre VII encomendou ao escultor e arquiteto Bernini um monumento para exaltar tão preciosa relíquia. Empenhando todo o seu gênio, construiu ele o magnífico Altar da Cátedra de São Pedro, considerado por muitos sua obra-prima. 


Nesse altar cheio de simbolismo, o mármore da Aquitânia e o jaspe da Sicília, sobre os quais se apóia o monumento, representam a solidez e a nobreza dos fundamentos da Igreja. As quatro gigantescas estátuas que sustentam a cátedra – representando Santo Ambrósio, Santo Agostinho, Santo Atanásio e São João Crisóstomo, Padres da Igreja Latina e da Grega – recordam a universalidade da Igreja e a coerência entre o ensinamento dos teólogos e a doutrina dos Apóstolos.No centro do altar foi colocada em 1666 a cátedra de bronze dourado dentro da qual se encerra, como num relicário, a bimilenar cadeira de São Pedro.


Símbolo da Infalibilidade papal


Nos documentos eclesiásticos, a expressão Cátedra de Pedro tem o mesmo significado de Trono de São Pedro, Sólio Pontifício, Sede Apostólica. Num sentido figurativo, equipara se ela a Papado e até mesmo a Igreja Católica. 


Afirmaram os Padres do IV Concílio de Constantinopla (ano 859): “A Religião católica sempre se conservou inviolável na Sé Apostólica (…) Nós esperamos conseguir manter-nos unidos a esta Sé Apostólica sobre a qual repousa a verdadeira e perfeita solidez da Religião cristã”. 


Nessa mesma época o Papa São Nicolau I pôde com inteira razão sustentar que “nos concílios não se reconheceu como válido e com força de lei senão aquilo que foi ratificado pela Sede de São Pedro, não tendo sido tomado em consideração aquilo que ela recusou”. 


Em uma de suas cartas, São Bernardo usa a expressão “Santa Sé Apostólica” para se referir à pessoa do Papa e afirma que a infalibilidade é privilégio “da Sé Apostólica”. 


Após a solene definição do dogma da Infalibilidade papal no Concílio Vaticano I, todos os católicos, eclesiásticos ou leigos, são unânimes em proclamar que o Papa é e sempre será isento de erro em matéria de fé e de moral, de acordo com as palavras de Jesus ao Príncipe dos Apóstolos: “Eu roguei por ti a fim de que não desfaleças; e tu, por tua vez, confirma teus irmãos” (Lc 22,32). 


A Cátedra de Pedro é, o mais eloquente símbolo dessa Infalibilidade, do Papado, da pessoa do Papa e da própria Santa Igreja de Cristo. Mais ainda, pois na Exortação Apostólica Pastores Gregis, Sua Santidade João Paulo II afirma que nela se encontra “o princípio perpétuo e visível, bem como o fundamento da unidade da fé e da comunhão”. 


Por este motivo, para ela se volta nossa entusiástica admiração de modo especial no dia de sua Festa litúrgica, 22 de fevereiro. 


Fonte:  Revista Arautos do Evangelho, Fevereiro/2005, No. 38, págs. 32


Fonte: Veritatis splendor


Notícia da Semana:

Bento XVI e o jornalismo arregão

Já foi dito por muitos católicos que acompanhar a cobertura desta renúncia papal e do próximo conclave por determinada imprensa era um tipo excelso de sacrifício. Não é de se admirar. Já teve jornal de primeira linha divulgando desde que a renúncia criava um precedente para se acabar com a infalibilidade papal - oi? - até que o momento era uma deixa para um Concílio Vaticano III. Mas até aí, sejamos tolerantes, opiniões jogadas ao vento, aceitas por qualquer papel.

O nível geral, no entanto, desceu drasticamente na última sexta feira, dia 15, quando a Folha de São Paulo divulgou o artigo de Barbara Gancia sobre o tema em questão.
Muito diferente dos outros textos, em que opiniões e especulações - por mais mirabolantes que fossem - eram colocadas em pauta com um mínimo de fundamento e seriedade, esse artigo chocou pelo seu caráter estrito de folhetim, propaganda e ataque pessoal. Dá para ver o veneno contido por entre a tipografia. Ao que tudo indica, a idéia era mesmo debochar, invocar ar de superioridade e capitalizar.

O artigo se intitula "Bento XVI, o Arregão". O escopo do artigo versa que Bento XVI se acovardou diante dos desafios da Igreja, que sua renúncia foi um sinal de "derrotismo", "frouxidão", e que este sai "de cena mordido", incapaz de imitar a Cristo. Começa criticando o fato do papa ter renunciando em latim - não ficou claro qual seria a sugestão para se falar diante de cardeais do mundo inteiro que falam em comum, o latim - depois entra nos clichês sobre pedofilia e encerra de forma épica qualificando João Paulo II de misógino. Mas a idéia toda do artigo é a exploração do próprio título, sendo o conteúdo conseguinte apenas desculpa para se divulgar o rótulo e ridicularizar. Bento XVI, seria então arregão.

Quando Joseph Ratzinger fez exatos 75 anos, confessou num seminário em Roma que estava muito cansado e doente. Era diabético, hipertenso, já tinha sofrido AVC e pedido dispensa 3 vezes do seu cargo a João Paulo II, sendo as 3 vezes negada. Já usava marca-passo há algum tempo. Dois anos depois, quando João Paulo II morre e seu sonho de voltar para a Alemanha lecionar finalmente surge no horizonte, os cardeais votam em maioria pela eleição de Ratzinger. Ele poderia ter dito não. Além de todo o vasto campo de trabalho que o cargo de chefe de estado exige - precisando receber Presidentes, Primeiros-Ministros, Diplomatas, etc - Ratzinger ainda teria que zelar pelo rebanho de 1 bilhão de fiéis no mundo. Que empreendimento humano pede tanto a uma pessoa idosa, com saúde delicada? Nenhum. Como dito, ele poderia ter recusado. A história nos mostra no entanto, que ele disse sim.

Mas para Barbara Gancia, Bento XVI não passa de um arregão.

A Igreja Católica tem 4 mil bispos no mundo, sendo que como Papa, Bento XVI precisaria gastar tempo individualmente com cada um deles e periodicamente. Some a estes, outros 180 núncios apostólicos espalhados em quase todos os países. Como Papa, Bento XVI precisaria escrever cartas, encíclicas, constituições e exortações apostólicas, homilias, discursos, preparar catequeses e audiências semanais. Como Papa, Bento XVI precisaria viajar, e muito. Como Papa, Bento XVI precisaria governar o Estado do Vaticano e a Cúria Romana. Como Papa, Bento XVI precisaria rezar, e as vezes, até dormir. Como sabemos, ele disse sim para tudo isso.

Mas para Barbara Gancia, Bento XVI não passa de um arregão.

Em apenas oito anos e já com idade avançada e saúde frágil, Bento XVI fez pelo menos 28 viagens fora da Itália, sendo algumas delas extremamente pesadas. Em 2005, jovens do mundo todo foram escutar o Papa professor em Colônia. Em 2006 foi a vez de se encontrar com as famílias, em Valência. Em 2007 celebrou a canonização do nosso primeiro santo. Em 2008 visitou o "Ground Zero", em New York, e rezou pelas vítimas do terrorismo além de se encontrar com as vítimas dos injustificáveis abusos sexuais. Em 2009 rezou no muro das lamentações, na Terra Santa e nos anos seguintes ainda visitaria Portugal, Reino Unido, Chipre, Croácia, Madri, Alemanha, Benim, México, Cuba…até para o Líbano o Papa viajaria, no meio de tumultos, tiros, e convulsões civis…e em cada viagem, quilos de papéis com discursos, protocolos com autoridades locais, eclesiásticas, além das atividades espirituais próprias para com cada comunidade.

Mas como sabemos, para Barbara Gancia, Bento XVI não passa de um arregão.

De 2005 a 2012, Bento XVI nos deixou ao menos 279 cartas, 139 cartas apostólicas, 117 constituições apostólicas, 18 motu proprio, 4 exortações apostólicas, 3 encíclicas, 3 extensos livros narrando a sua biografia de Jesus Cristo, além de milhares (sim, milhares) de discursos e homilias. Os números são quase miraculosos, não fossem o rigor e a disciplina germânica que sempre marcaram a atividade de Joseph Ratzinger (doutor em 7 universidades), aquele mesmo que 8 anos antes já havia pedido 3 vezes por dispensa.

É, mas para Barbara Gancia, Bento XVI não passa de um arregão.

O código de direito canônico prevê a renúncia de todos os cargos eclesiásticos, inclusivo de um Papa. Não é um fato comum que um Papa renuncie, mas é um fato normal, ou seja, dentro da normalidade da Igreja. Bento XVI já havia emitido sua opinião em entrevista a Peter Seewald: se um Papa não consegue mais assumir os seus encargos, não apenas teria o direito de renunciar mas poderia até mesmo ter o dever de fazê-lo. O mesmo Seewald revelou nesse sábado, dia 16, que Bento XVI estava "esgotado há muito tempo", e que este ouvira do Papa um comovente "sou um homem idoso, as forças me abandonaram, acho que basta o que fiz até agora". Seewald ainda confidenciou que o último livro do Papa fora escrito "com suas últimas forças".

Bem, você já sabe o que a Barbara Gancia pensa de Bento XVI: arregão.

Nos dias seguintes a renúncia, autoridades do mundo todo vieram se manifestar em consideração a Bento XVI. O presidente da Itália disse que se tratava de um ato "de grande coragem e generosidade". Barack Obama disse que seu "apreço e orações" estavam com o papa. A chanceler alemã, Angela Merkel, afirmou que aquela era uma "decisão difícil que deve ser respeitada". David Cameron, primeiro-ministro britânico, disse que Bento XVI foi um papa que fez todos se sentarem e pensarem e que "fará falta como um líder espiritual de milhões de pessoas". "Eu acredito que ele merece muito crédito para o avanço das relações inter-religiosas em todo o mundo e entre o judaísmo, o cristianismo e o islamismo”, afirmou o rabino chefe israelense, Yona Metzger.

Ao contrário dessas pessoas, Barbara Gancia considera Bento XVI um arregão.

Peço desculpas pela insistência em reafirmar a opinião da jornalista tantas vezes. Era apenas para deixar claro que Barbara Garcia teve uma grande chance de escrever com seriedade, com decoro e honestidade. Deixou de lado a ética e optou pelo deboche, pela injúria pura e simples. Neste artigo, Barbara desistiu de fazer jornalismo, ou em outras palavras, Barbara decidiu arregar.

Publicado no jornal Gazeta do Povo.

Silvio Medeiros, publicitário, foi vencedor por 4 quatro vezes do Festival de Canne.

Fonte: Mídia Sem Máscaras

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