Sexta-Feira da Cruz de Nosso Senhor

7. Na história lê-se que muitos penitentes, iluminados pela luz divina sobre a malícia de seus pecados, chegaram a morrer de puro dor. Que tormento, portanto, deveria suportar o coração de Jesus à vista de todos os pecados do mundo, todas as blasfêmias, sacrilégios, desonestidades e de todos os outros crimes cometidos pelos homens depois de sua morte, dos quais cada um vinha com sua própria
malícia, à semelhança de uma fera cruel, lacerar-lhe o coração. Vendo isto, dizia então nosso aflito Senhor, agonizando no horto: É esta, então, ó homens, a recompensa que vós me dais pelo intenso amor meu? Oh! se eu visse que vós, gratos ao meu afeto, deixaríeis de pecar e começaríeis a amar-me, com que alegria iria agora morrer por vós. Mas ver, depois de tantos sofrimentos meus, ainda tantos
pecados; depois de tão grande amor meu, ainda tantas ingratidões, é isto justamente o que mais me aflige, me entristece até à morte e me faz suar sangue vivo: “E seu suor tornou-se em gotas de sangue que corria até a terra” (Lc 22,44). No dizer do Evangelista, este suor sangüíneo foi tão copioso que primeiro molhou todas as vestes do Redentor e depois correu em abundância sobre a terra.
8. Ah! meu terno Jesus, eu não vejo neste horto nem flagelos nem espinhos, nem cravos que vos firam, e como é que vos vejo todo banhado em suor de sangue da cabeça aos pés? Foram os meus pecados a prensa cruel que, à força de aflições e tristeza, fez jorrar tanto sangue de vosso coração. Também eu fui então um dos vossos mais cruéis carnífices, ajudando com os meus pecados a atormentar-vos mais cruelmente. Certo é que se eu houvesse pecado menos, menos teríeis padecido, ó meu Jesus. Quanto maior foi o meu prazer em ofender-vos, tanto maior foi a aflição que vos causei ao vosso coração magoado. E como este pensamento não me faz agora morrer de dor, ao compreender que paguei o amor, que testemunhastes na vossa paixão, aumentando vossa tristeza e vossas penas? Fui eu quem atormentou esse tão amável e amoroso coração que tanto me amou! Senhor, como agora não possuo outro meio para vos consolar que arrependendo-me de vos haver ofendido, aflijo-me e arrependome
de todo o meu coração, ó meu Jesus. Dai-me uma dor tão grande que me faça chorar continuamente até último suspiro de minha vida os desgostos que vos dei, meu Deus, meu amor, meu tudo.

Fonte: A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo - Piedosas e edificantes meditações - sobre os sofrimentos de Jesus - Por Sto. Afonso Maria de Ligõrio - Traduzidas pelo Pe. José Lopes Ferreira, C.Ss.R. - VOLUME I

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