27 ou 28 de Fevereiro - São Gabriel de Nª Srª das Dores, Confessor

O pai do Santo, já com vinte e dois anos era governador da cidade de Urbânia,
cargo que sucessivamente veio a ocupar em S. Ginésio, Corinaldo, Cingoli e
Assis. Como um dos magistrados dos Estados Pontifícios, gozava de grande estima
do Papa Pio IX e Leão XIII honrava-o com sua sincera amizade. A mãe era de nobre
família de Civitanova d’Ancona. Estes dois cônjuges apresentavam modelos de
esposos cristãos, vivendo no santo temor de Deus, unidos no vínculo de respeito
e amor fidelíssimo, que só a morte era capaz de solver. Deus abençoou esta santa
união com treze filhos, dos quais Gabriel era o undécimo. Este, no batismo
recebeu nome de Francisco, em homenagem a seu avô e ao Seráfico de
Assis.
Dando testemunho da educação que recebiam na família, no Processo da
beatificação do Servo de Deus, os seus irmãos declararam: “Nós fomos educados
com o máximo cuidado, no que diz respeito à piedade e à instrução. Nossa mãe era
piedosíssima e nos educou segundo as máximas da nossa santa Religião”. Nos
braços, sobre os joelhos de uma mãe profundamente religiosa o pequeno Francisco
aprendeu os rudimentos da vida cristã e pronunciar os santos nomes de Jesus e
Maria.
A grande felicidade que na infância reinava, experimentou um grande abalo,
quando inesperadamente o anjo da morte veio visitar aquele lar e arrebatar-lhe a
mãe. D. Inês sentindo a última hora se aproximar, na compreensão do seu dever de
mãe cristã reuniu todos os filhos à cabeceira do leito mortal, estreitou-os, um
por um, ao seu coração, selou a sua fronte com o último beijo, deu-lhes a
bênção, distinguindo com mais carinho os de tenra idade, entre estes, Francisco;
munida de todos os sacramentos, confortada pela graça de Deus, na idade de 38
anos deixou este mundo, para, na eternidade, perto de Deus, receber o prêmio de
suas raras virtudes.
O inimigo das almas tirou proveito dessas fraquezas. Se não conseguiu roubar-lhe
a inocência, não foi porque não lhe poupasse contínuos assaltos, bem sucedidos.
A paixão pelo teatro, a verdadeira mania por bailes, o amor à leitura de
romances eram tantos escolhos, tantos perigos, que é de admirar que o jovem
Francisco não caísse presa das ciladas diabólicas. Tão pronunciada era sua
paixão às danças, que lhe importou a alcunha de “bailarino”. Assim um dos seus
mestres, Pe. Pinceli, Jesuíta, quando soube da inesperada fuga de Possenti do
mundo para o convento, disse: “O bailarino fez isto? Quem esperava uma tal
coisa! Deixar tudo e fazer-se religioso no noviciado dos Padres
Passionistas!”

Com todas as leviandades e suas perigosas tendências para o mundo, Francisco não
deixava de ser um bom e piedoso jovem, a quem homens sábios e virtuosos não
pudessem escrever com confiança, benevolência e estima e cujas palavras não
fossem aceitas com respeito e gratidão.
“Muitas vezes” – diz quem bem o conhecia – “Possenti sentiu o
chamado de Deus, de deixar a vida no mundo e trocá-la com o estado religioso”.
Seu diretor, Pe. Norberto, Passionista, declara: “A vocação, se bem que
descuidada e sufocada, estava nele havia muito tempo e ele a sentiu desde os
mais tenros anos. Muitas vezes o servo de Deus disse-me isto, lastimando a sua
ingratidão e indiferença”.
O mesmo sacerdote relata: “A sua vocação se manifestou do seguinte modo: Não sei
em que ano foi, sentiu-se ele acometido de um mal, que o fez pensar na morte.
Teve então a inspiração de prometer a Deus entrar numa Ordem religiosa, caso
recuperasse a saúde. A promessa foi aceita, pois melhorou prontamente e em pouco
tempo se achou restabelecido. A promessa ficou como se não fosse feita. O jovem
tornou a dar o seu afeto ao mundo e se entregou à dissipação como antes. Não
tardou que Deus lhe mandasse outra enfermidade, uma inflamação interna e externa
da garganta, tão grave, que parecia a morte iminente já na primeira noite,
tornando-se-lhe dificílima à respiração. Novamente o enfermo recorreu a Deus e
invocando Santo André Bobola, aplicou ao lugar dolorido uma estampa do mesmo
Santo,e renovou a promessa de abraçar o estado religioso. As melhoras se
acentuaram quase instantaneamente e teve o enfermo uma noite tranqüila e não
mais voltaram as angústias da dispnéia. Deste extraordinário favor o jovem se
lembrou sempre com muita gratidão. Manteve também por algum tempo o propósito de
fazer-se religioso, mas diferindo-lhe a execução, o amor ao mundo
voltou e no mundo continuou a viver.
Das paixões de Francisco, uma das mais fortes foi a da caça. A esta paixão ele
pagava tributos bem pesados e seu diretor espiritual não hesitou em atribuir a
este esporte a cruel moléstia, que o ceifou na flor da idade. Certa vez, em
pular uma cerca, chegou a cair e com tanta infelicidade, que quebrou-lhe um osso
do nariz. O fuzil disparou e o projétil passou-lhe rentinho pela testa, pouco
faltando que lhe rebentasse o crânio. Francisco reconhecendo logo a providência
deste aviso, renovou a sua promessa. Ficou com as cicatrizes, mas deixou-se
ficar no mundo.
A graça divina também não se deu por vencida. Rejeitada três vezes, tentou um
quarto golpe, mais doloroso ainda. De todos de sua família Francisco dedicava
terníssima amizade a sua irmã Maria Luzia, nove anos mais velha que ele, e esta
amizade era correspondida com todo afeto. Em 1855 irrompeu em Spoleto a cólera e
Maria Luiza foi a primeira vítima da terrível epidemia. Foi no dia Corpus
Christi, e a notícia alcançou Francisco, quando, na procissão, levava a cruz. A
morte da irmã feriu profundamente o coração do jovem e mergulhou sua alma em
trevas nunca antes experimentadas. Perdeu o gosto de tudo e se entregou a uma
tristeza inconsolável. Parecia, que com este golpe a graça divina tivesse
removido o último obstáculo de a promessa se cumprir. Assim ainda
não foi. Todo acabrunhado, Francisco manifestou ao pai sua resolução de entrar
para o convento chegando a dizer que para ele tudo se tinha acabado nesta vida.
Possenti, receando perder seu filho a quem muito amava, não recebeu bem a
comunicação e pediu-lhe nunca mais tocasse neste assunto. Aconselhou-o a se
distrair, a afastar os pensamentos tristes a procurar a sociedade, freqüentar o
teatro; chegou a insinuar-lhe a idéia de procurar a amizade de uma donzela
distinta, de família igualmente conceituada, na esperança de nos entendimentos
inocentes ela conseguir de fazê-lo esquecer-se dos seus intentos religiosos.
Na igreja metropolitana de Spoleto gozava de uma veneração singular uma imagem
de Nossa Senhora; a esta imagem chamava simplesmente “a Icone”. Na oitava do dia
15 de agosto esta imagem era levada em solene procissão por dentro da igreja e
não havia quem não se ajoelhasse à sua passagem. Em 1856 Francisco Possenti
achava-se no meio dos fiéis e todo tomado de amor por Maria Santíssima, os seus
olhos se fixavam na venerada imagem como que esperando por uma bênção especial.
Pois, quando a “Icone” vinha aproximando-se do jovem, parecia ela lhe atirar um
olhar todo especial e lhe dizer: “Francisco, o mundo não é para ti; a vida no
convento te espera”. Esta palavra, qual uma seta de fogo cravou-lhe no coração;
assim saiu da igreja desfeito em lágrimas. Estava resolvido a realizar desta vez
o plano de alguns anos. Tratou, porém, de não dar por enquanto nenhuma
demonstração do seu intento.
Embora certo de sua vocação, mas desconfiando da sua fraqueza, e para não ser
vítima de uma ilusão procurou seu mestre no liceu e diretor espiritual Pe.
Bompiani, Jesuíta e a ele se abriu inteiramente, fazendo do conselho do mesmo
depender sua resolução definitiva. O exame foi feito com toda sinceridade e
tendo tomado em consideração todos os fatores influentes no passado da vida do
jovem, o Pe. Bompiani não duvidou de se tratar de uma vocação verdadeira e
animou o jovem a seguí-la. Consultas que fez com mais dois sacerdotes de sua
inteira confiança, tiveram o mesmo resultado. Francisco se resolveu então a
pedir sua admissão na Congregação dos Passionistas. Comunicar ao pai a resolução
tomada, não foi fácil. Mas desta vez o Sr. Sante, homem consciencioso, vendo a
aflição e a firmeza de seu filho, não mais se opôs; tomado, porém, de espanto
quando soube que a Congregação por Francisco escolhida, a dos Passionistas, era
de todas a mais austera. Se bem que não se opusesse à vontade do filho, tratou
de procrastinar a execução do seu plano e impor condições. Francisco, porém,
ficou firme. Tomou ainda e pela última vez, parte na solenidade da distribuição
dos prêmios, no colégio dos Jesuítas, fez como sempre um papel brilhante no
palco, despediu-se dos seus professores, dos seus amigos e em companhia de seu
irmão Luiz, da Ordem Dominicana, por ordem de seu pai, fez uma visita a seu tio
Cesare, cônego da Basílica de Loreto e a um parente de seu pai, Frei João
Batista da Civitanova, guardião de um convento dos capuchinhos, levando para
ambos carta de Sante Possenti em que este pedia examinassem a vocação do jovem.
Tanto o cônego como o capuchinho carregaram bastante as cores da vida austera na
Congregação dos Passionistas, que absolutamente não lhe conviria, a ele, moço de
dezoito anos, acostumado a seguir às suas vontades, sem restrição de
comodidades. A visita à Santa Casa em Loreto Francisco aproveitou largamente
para recomendar-se a N. Sra. Não mais arredou do caminho encetado. De Loreto foi
para convento Morrovale, dos Passionistas onde já em 21 de
setembro de 1856 recebeu o hábito com o nome de Gabriel dell’Adolorata. Admitido
no noviciado, escreveu ao pai e aos irmãos, comunicando-lhes o fato. Ao pai pede
perdão, aos irmãos recomenda amor filial e boa conduta. A carta, embora de
simplicidade encantadora, é um documento admirável de sentimento filial e
católico. Aos companheiros seus de estudo dirigiu cartas também. Despede-se,
pede perdão de maus exemplos que julgava ter dado; aconselha-os a
fugir das más companhias, do teatro, das más leituras e das conversas
inúteis.
Convencidíssimo da sua vocação religiosa, longe do mundo, da sociedade e da
família, não mais teve outro ideal que subir as culminâncias da perfeição.
Inconfundível era sua personalidade no meio dos seus companheiros do noviciado.
Sem perder as notas características do seu caráter, a jovialidade, a alegria de
espírito, a amenidade de trato, era ele inexcedível não só na exatidão do
cumprimento dos exercícios regulares, como também na prática das virtudes
cristãs e monásticas. E se perscrutarmos as causas profundas desta mudança
radical na vida de Gabriel, duas conseguiremos encontrar, aliás suficientes e
esclarecedoras: o ardente amor a Jesus Crucificado, à Santa Eucaristia, sua
devoção singular a Mãe de Deus, em particular à Nossa Senhora das Dores e sua
inalterada mortificação, por meio da qual deu morte aos seus desordenados
apetites, um por um.
Tendo corrido o ano de provação, Gabriel foi admitido à profissão e mandado para
várias casas da Congregação, com o fim de completar os seus estudos de teologia.
Durante os anos de preparação para o sacerdócio, superiores e companheiros viram
no santo jovem o modelo mais perfeito de todas as virtudes, e cumpridor
exatíssimo dos seus deveres.

Assim morreu o santo jovem na idade de vinte e quatro anos, na manhã de 27 de
fevereiro de 1862. Foi sepultado na igreja da Congregação, em Isola Del Gran
Sasso. Trinta anos depois fêz-se o reconhecimento do seu corpo. Nesta ocasião
com o simples contacto de suas relíquias verificou-se a cura prodigiosa de uma
jovem que a tuberculose pulmonar tinha reduzido ao último estado.
Reproduziram-se aos milhares os prodígios que foram constatados à invocação do
Santo. Em 1908 o Papa Pio X inscreveu o nome de Gabriel da Virgem Dolorosa no
catálogo dos Beatos e em 1920 Bento XV decretou-lhe as solenes honras da
canonização.
Pio XI estendeu a sua festa a toda a Igreja, em 1932.
Oração
Ó Deus, que ensinastes a S. Gabriel a honrar
com assiduidade as dores de vossa Mãe dulcíssima e por ela o elevaste à glória
da Santidade e dos milagres, concedei-nos, pela sua intercessão e seus exemplos,
a graça de partilharmos tão intimamente as dores de vossa Mãe Santíssima, que
por sua maternal proteção consigamos a salvação eterna
Fonte: Página do Oriente
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