Teologia Ascética e Mística: Da luta contra os ínimígos espirituais

O Remédio contra a concupiscência

196. B) O remédio para tão grande mal é a mortificação do prazer sensual; porquanto, diz S. Paulo: «Os que são de Cristo crucificaram a sua própria carne com os seus vícios e concupiscências: Qui autem sunt Christi, carnem suam crucifixerunt cum vitiis et concupiscentiis» (Gál 5,24). Ora crucificar a carne, diz M. Olier, «é ligar, garrotar, sufocar interiormente todos os desejos impuros e desregrados, que sentimos em nossa carne»; é também mortificar os sentidos exteriores, que nos põem em comunicação com os objetos de fora e excitam em nós desejos perigosos. O motivo fundamental, que nos obriga a praticar esta mortificação, são as promessas do nosso batismo.

197. Pelo batismo, que nos faz morrer ao pecado e nos incorpora em Cristo, somos obrigados a praticar esta mortificação do prazer sensual; porquanto, «segundo S. Paulo, não somos já devedores da carne, para vivermos segundo a carne, mas somos obrigados a viver segundo o espírito; e, se vivemos pelo espírito, andemos segundo o espírito, que nos imprime no coração a inclinação para a cruz e a força de a levar ". 

O baptismo de imersão pelo seu simbolismo, mostra-nos a verdade desta doutrina: imerso na água, o catecúmeno morre ali ao pecado e a suas causas, e, quando dela é retirado participa duma vida nova, a vida de Jesus ressuscitado. É a doutrina de S. Paulo (Rom 6,2-4): «Mortos ao pecado, como poderíamos ainda viver no pecado? Ignorais porventura que todos quantos fomos batizados em Cristo Jesus, foi na sua morte que fomos baptizados? Porquanto, fomos juntamente sepultados com Ele pelo baptismo em sua morte. para que, assim como Cristo ressurgiu dos mortos, pela glória do Pai, assim também nós andemos numa vida nova». Assim pois a imersão batismal significa a morte ao pecado e a obrigação de lutar contra a concupiscência que tende ao pecado: E a saída da água exprime a vida nova, pela qual participamos da vida ressuscitada do Salvador. O baptismo obriga-nos, pois, a mortificar a concupiscência que fica em nós, e a imitar a Nosso Senhor Jesus Cristo que, crucificando a sua carne, nos mereceu a graça de crucificar a nossa. Os cravos, com que a crucificamos, são precisamente os diferentes atos de mortificação que praticamos, Tão imperiosa é esta obrigação de mortificar o prazer que daqui depende a nossa salvação e vida espiritual: «Porque, se viverdes segundo a carne, morrereis, mas, se pelo Espírito mortificardes as obras da carne, vivereis: Si enim secundum carnem vixeritis, moriemini: si autem spiritu facta carnis mortificaveritis. vivetis» (Rom 8,13).

198. Para ser completa a vitória, não basta renunciar aos prazeres maus (o que é de preceito); é mister ainda sacrificar os prazeres perigosos que conduzem quase infalivelmente ao pecado, em virtude do principio: «qui amat peticulum, in illo peribit»: mais ainda, é necessário privar-se de alguns dos prazeres lícitos, afim de robustecer assim a vontade contra a sedução do prazer vedado: é que, efetivamente, quem quer que saboreia sem restrição todos os deleites permitidos. está bem perto de revelar aos que o não são.

(Fonte: Compêndio de Teologia e Ascética e Mística - AD. Tanquerey - 1961)

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