Liturgia II: A LITURGIA ROMANA

Rito Romano São Pio V
62. Como o rito romano, essencialmente, foi sempre o mesmo, assim o rito de todo o Ocidente foi, essencialmente, como parece, sempre o romano. No desenvolvimento do rito romano podemos distinguir várias épocas de duração aproximada. Esta sistematização não pretende marcar uma interrupção do processo historicamente contínuo, mas facilitar a sua compreensão.

61. I. A Liturgia romana meio fixa e meio improvisada (c.100-400): Dos primeiros séculos não possuímos nenhum livro litúrgico do rito romano. A chamada "Tradição apostólica" exarada, como se afirma, em Roma por S. Hipólito, no tempo do papa Calisto (217-222), existe, como foi dito, na versão cóptica. E, porém, incerto, se representa o texto oficial  da Igreja romana. Mas pode-se supor que, ao menos, não se afasta muito dela; do contrário teria ofendido os seus partidários. Este rito é brevíssimo. Principia pelo Sursum corda com prefácio, segue-se uma oração de ação de graças pela redenção (eucaristia), consagração, Linde et memores, epiclese, comunhão. O resto do serviço divino estava entregue ao arbítrio do bispo, contanto que não deixasse a explicação da sagrada escritura, a oração pelas várias classes dos fiéis, a devida preparação da matéria para o sacrifício. São Justino mártir (+ 167) diz que o bispo agradece o dom eucarístico "ainda por bastante tempo, na medida da sua força." (Eisenhofer, p. 58. 1. Apol. c. 65, c. 67.) Liturgias semelhantes existiam no século IV, em Antioquia na Síria, "As Constituições Apostólicas" 1. 8; no Egito o eucológio (missal) do santo abade Serapião de Tmuis (+ c. 360).

63. II. A Liturgia romana toda fixa (c. 400-700):  É a época dos sacramentários. O sacramentário era livro litúrgico, usado até ao século XIII, que continha principalmente o cânon e as orações mutáveis do ofício; para as lições e cantos era necessário outro livro. 1. O primeiro é o sacramentário leonino, em grande parte obra do papa Leão I (440-461). 175 textos desta coleção litúrgica ainda se acham em nosso missal; falta, porém, o cânon. 2. O gelasiano, na opinião dos célebres liturgistas Tomluasi e Muratori, foi redigido no séc. V, provavelmente pelo papa Gelásio (492-496) mesmo. 3. O gregoriano, que é a base do nosso missal romano moderno. S. Gregório Magno (+ 604) compôs um sacramentário, que, porém, se perdeu; o exemplar completo mais antigo é do ano 812. Aboliu a multiplicidade de ofícios, prescreveu, em lugar das duas, só uma oração cada dia, reduziu os 54 prefácios do gelasiano 'a 10 e acrescentou alguns ofícios. Destes sacramentários se segue que a Liturgia da missa, ao menos desde o século VII, tem sido sempre, com poucas exceções, a mesma.

64. III. A Liturgia romana generalizada (c. 700-1500): O papa S. Gregório mandou em 597 para a Inglaterra o monge beneditino S. Agostinho com 40 companheiros. Implantaram a Liturgia romana naqueles reinos, impedindo a propagação da Liturgia céltica, trazida pelos monges irlandeses (Coelho, I, 224). Da Inglaterra a Liturgia romana passa com os missionários ingleses, S. Vilibrordo e outros, para a Frísia; com S. Ansgário, para a Dinamarca e Suécia, com S. Bonifácio, para a Alemanha e o país dos francos, onde, protegida por Pepino e Carlos Magno, suplantou a Liturgia galicana, aceitando, porém, alguns elementos galicanos. Esta Liturgia da côrte tornou-se geral em todos os países do reino dos francos e também em Roma. Nos reinos da península ibérica, a Liturgia romana foi propagada mormente pelos beneditinos de Cluni, que contribuíram para a supressão da Liturgia moçárabe.

Rito Ambrosiano
65. IV. A Liturgia romana única (desde 1500): Os sacramentários só continham as fórmulas para a missa solene. As missas privadas, muitas vezes, particularmente no concílio de Treves (1310), proibidas, generalizaram-se; novas festas foram introduzidas e os papas deixaram liberdade nas matérias não contidas no sacramentário romano. Assim, pouco a pouco se formou grande diferença na Liturgia de vários países e dioceses. Ao concílio de Trento foram dirigidos pedidos no sentido de reformar também a Liturgia e reduzi-la à unidade. Em consequência disso o papa Pio V publicou o novo breviário (1568) e o novo missal (1570) para toda a Igreja. Sisto V (1588) instituiu a Congregação dos Ritos, encarregada de fiscalizar e desenvolver o rito romano, de maneira que novos abusos não se pudessem arraigar tão facilmente. As (c. 80) dioceses da França que tinham abandonado a reforma piana e editado livros litúrgicos próprios, no século XIX adotaram a reforma de Pio V. Existe, assim, unidade na Igreja romana.

66. V. Reforma de Pio X: Este papa introduziu o antigo costume de recitar no breviário, cada semana, todo o saltério, sem tornar o ofício mais comprido e sem diminuir o culto dos santos. (Edição de 1914.) No missal, os domingos, e principalmente as férias maiores da quaresma, ocuparam uma posição mais própria, para favorecer o espírito do ano eclesiástico. (Edição típica de 1920.)

67. Liturgias romanas antepianas: Pio V tinha abolido só os missais e os breviários que não tinham em seu favor aprovação pontifícia ou costume superior a 200 anos. Por isso conservaram-se algumas Liturgias antigas no Ocidente: 1. O rito monástico dos beneditinos e das ordens da mesma regra.
2. O rito cisteciense dos monges de Cister, reformados pelo abade Cláudio Vaussin em 1641; é bastante diferente do rito romano. 3. 0 rito carmelitano ou hierosolimitano, empregado pelos carmelitas observantes. 4. O rito dominicano, muito semelhante ao carmelitano; é próprio dos dominicanos. 5. O rito cartusiano, que não difere muito do romano; é próprio dos cartuxos. 6. O rito premonstratense, próprio dos cônegos regulares premonstratenses. 7. O rito da diocese de Braga, próprio da arquidiocese de Braga, em Portugal. 8. O rito da diocese de Lião, na França; é quase todo romano. Todos estes ritos têm missal próprio, breviário próprio, ritual e cerimonial, com exceção do rito monástico, que tem só breviário próprio, e do rito de Lião, que tem só missal próprio. (Piacenza, Liturg., p. 10.) A Liturgia ambrosiana e a moçárabica já foram mencionadas.


Fonte: Curso de Liturgia - 2ª Edição - Pe. João Batista Reus, S. J. - Ed Vozes Limitada - Petrópolis - Rj 1944

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