Santo Ofício: O pensamento Cristão (Parte I)

Dos presidentes das igrejas, que por meio de seu sangue mostraram a verdade da religião de que eram embaixadores

Entre os dirigentes das igrejas que sofreram martírio nas cidades célebres, o primeiro que devemos proclamar como mártir nos monumentos erigidos aos santos do reino de Cristo é Antimo, bispo da cidade de Nicomedia, que foi decapitado.Dos mártires de Antioquia, Luciano, excelentíssimo presbítero daquela igreja por toda sua vida, o mesmo que, em Nicomedia, em presença do imperador, proclamou o reino celestial de Cristo, primeiro por palavra, com uma apo¬logia, e logo também pelas obras.

Dos mártires da Fenícia, os mais ilustres podem ser os pastores do rebanho espiritual de Cristo, amados de Deus em tudo, Tiranion, bispo da igreja de Tiro; Zenóbio, presbítero da de Sidon, e também Silvano, bispo das igrejas da comarca de Emesa.

 Este último, junto com outros, foi pasto das feras na mesma Emesa e recebido assim entres os coros dos mártires. Quanto aos outros dois, ambos glorificaram o Verbo de Deus em Antioquia com sua constância até a morte: o bispo, lançado aos abismos do mar; e Zenóbio, o melhor dos médicos, morrendo valorosamente em meio às torturas que lhe aplicaram aos costados.

Entre os mártires da Palestina, Silvano, bispo das igrejas da comarca de Gaza, foi decapitado, junto com outros trinta e nove, nas minas de cobre de Feno; e ali mesmo terminaram sua vida pelo fogo, junto com outros, os bispos egípcios Peleo e Nilo. E entre estes mencionaremos a grande glória da igreja de Cesaréia, o pres¬bítero Pánfilo, o mais admirável de nossos tempos; já descreveremos no momento oportuno a excelência de suas façanhas.

Entre os gloriosamente consumados em Alexandria, em todo Egito e na Tebaida, citaremos em primeiro lugar Pedro, bispo da própria Alexandria, exemplar divino de mestres da religião de Cristo; e os presbíteros que com ele estavam, Fausto, Dío e Ammonio, mártires perfeitos de Cristo; assim como Fileas, Hesiquio, Paquimio e Teodoro, bispos das igrejas do Egito, e outros inúmeros além deles, todos ilustres, dos quais fazem memória as igrejas de cada região e de cada lugar. Colocar por escrito os combates dos que lutaram pela religião divina em toda a terra habitada e narrar com exatidão tudo o que lhes aconteceu não é tarefa nossa, mas poderiam torná-la própria os que captaram os fatos com seus próprios olhos. Quanto aos que eu mesmo presenciei, darei a conhecê-los à posteridade por meio de outro livro.

Na presente obra, ao já dito acrescentarei a palinódia  cantada pelo que se pôs contra nós desde o começo da perseguição, que será do máximo proveito para os leitores. Agora bem, que palavras seriam bastantes para descrever a abundância de bens e a prosperidade de que foi digno o governo de Roma antes de sua guerra contra nós, durante o período em que os governantes eram amigáveis e pacíficos conosco? Era o tempo em que os que governavam o império universal cumpriam o décimo e o vigésimo aniversário de seu comando e passavam sua vida em completa e sólida paz entre festas, jogos públicos e esplêndidos banquetes e festins. Mas quando sua autoridade, livre de obstáculos, crescia dia a dia e prosperava a grandes passos, de repente deram uma mudança em sua pacífica disposição para conosco e suscitaram uma guerra sem quartel. Mas não se haviam cumprido os dois anos de semelhante movimento quando por todo o Império se produziu algo imprevisto que transtornou todos os assuntos.

Efetivamente, havendo-se abatido sobre o primeiro e principal dos que mencionamos  uma enfermidade que não augurava nada bom e que lhe transtornou a mente até aliená-lo, retirou-se à vida comum e privada junto com o que ocupava o segundo posto nas honras . Mas ainda não se tinha isto realizado assim, e já o Império se partia em dois, todo ele, coisa que jamais no que se recorda ocorreu anteriormente.  Mas ao cabo de não muito longo intervalo, o imperador Constâncio, que em toda sua vida havia tratado a seus súditos com a maior suavidade e benevolência e à doutrina divina com a melhor amizade, terminou sua vida segundo a lei comum da natureza, deixando seu filho legítimo Constantino como imperador e augusto em seu lugar. Bondoso e suave mais que os outros imperadores, ele foi o primeiro  dentre eles ao qual proclamaram deus, por considerá-lo digno de toda a honra que se deve a um imperador depois de sua morte.

Ele foi também o único dos nossos contemporâneos que durante todo o tempo de seu mandato portou-se de um modo digno do Império. No demais, mostrou-se para todos o mais favorável e benfeitor, e não participou o mínimo da guerra contra nós, antes até, preservou livres de dano e de constrangi¬mentos os fiéis que eram seus súditos. Tampouco derrubou os edifícios das igrejas nem admitiu novidade alguma contra nós, e teve o final de sua vida triplamente abençoado, pois foi o único que morreu querido e glorioso em seus próprios domínios imperiais, junto a um sucessor, seu legítimo filho, prudentíssimo e muito piedoso em tudo. Seu filho Constantino, imediatamente proclamado desde o início imperador absoluto e augusto pelas legiões, e muito antes destas, pelo próprio Deus, imperador universal, mostrou-se cópia de seu pai na piedade para com nossa doutrina. Assim era este homem. Mas, além deles, proclamou-se a Licínio como imperador e augusto por voto comum dos imperadores.

Isto irritou terrivelmente a Maximino, que até este momento ainda seguia com o único título de césar. Em conseqüência, como era um grande tirano, arrebatou para si fraudulentamente a dignidade de augusto e nisto converteu-se por si e ante si. E neste tempo surpreendeu-se tramando um atentado contra a vida de Constantino a aquele que, como foi demonstrado, depois de sua abdicação voltou ao cargo e morreu com a mais vergonhosa morte. Foi o primeiro de quem destruíram as inscrições honoríficas, as estátuas e tudo o que se costu¬mava oferecer, como de um homem por demais sacrílego e ímpio.


[588] O edito de tolerância de Galerio. Aparentemente Eusébio pretendia com isto terminar sua obra.

[589] Ou seja, Diocleciano.

[590] Diocleciano obrigou Maximiano Hercúleo, o segundo augusto, a abdicar junto com ele em primeiro de maio de 305. Sucederam-nos com o título de augustos os césares Galerio e Constâncio Cloro, e foram nomeados césares Severo e Maximino Daza.
[591] Praticamente Constâncio Cloro e Severo ficaram com todo o Ocidente, Galerio e Maximino Daza se apropriaram do Oriente.
[592] Primeiro entre os tetrarcas.
[593] Também traduzido como Magnêncio ou Magêncio.
[594] A maior parte das referências a Maxêncio provém de autores da propaganda de Constantino, não sendo portanto isentas. Maxêncio efetivamente parou a perseguição contra os cristãos e inclusive construiu uma basílica, que Constantino veio a renomear com seu próprio nome.


Fonte: História Eclesiástica - Eusébio de Cesaréia (bispo de Cesaréia, nasceu em cerca de 270, fale­ceu no ano 339/340) - Ed. Novo Século - São Paulo - 2002


Notícia da Semana:

Funcionário vaticano denuncia violência contra cristãos na África - ACI Digital

   
Roma, 04 Mai. 12 / 10:45 am (ACI)

O Secretário do Pontifício Conselho da Cultura, Dom. Barthélemy Adoukonou, natural do Benim, denunciou a terrível situação de violência que vivem os cristãos na África por causa de sua fé.

Em diálogo com o grupo ACI, Dom Adoukonou explicou que muitos cristãos vivem aterrorizados por defender sua religião contra o fanatismo islâmico, mas confia plenamente, que o exemplo que pregarão os católicos conseguirá o triunfo da paz.

"Os cristãos perseguidos por nossos irmãos muçulmanos, realmente é uma situação muito ruim que vivenciamos. Mas esperamos que pouco a pouco os cristãos dêem a eles mais testemunho de paz e de justiça", expressou.

Uma onda de atentados por ódio aos cristãos invadiu anos atrás diversas zonas da África. Nigéria, Sudão, Egito e Síria, são alguns dos países mais afetados pelo ódio aos cristãos.

"Não sei o que procuram exatamente aqueles que põem à prova os católicos com estes atentados, mas de igual modo, nós lhes dizemos que na África, dentro da mesma família, podemos viver cristãos, muçulmanos, e membros das religiões tradicionais em paz".

"Esta ideologia de assassinar aos filhos de Deus por satisfazer Deus não tem sentido algum. Não pertence ao gênero cultural da África", sublinhou.

Dom Adoukonou participou ontem em um seminário organizado pela Pontifícia Universidade Lateranense de Roma para potencializar as Exortações Apostólicas "Ecclesia in África" do Beato Papa João Paulo II, e "Africa Munus", do Papa Bento XVI.

O Prelado está seguro que sob os ensinamentos da "África Munus" o futuro de prosperidade para a África não tem limites, "o futuro para mim esplêndido sob o olhar do texto que Bento XVI nos deu, quer dizer, que a Igreja na África seja o pulmão da humanidade", concluiu.

No encontro também participaram o Secretário do Pontifício Conselho "Cor Unum", Dom Giampietro Dal Toso, e o Reitor Magnífico da Pontifícia Universidade Lateranense, Dom Enrico Dal Covolo.

Dom Dal Covolo explicou ao grupo ACI que "estamos em um momento trágico, mais ainda, diria dramático, pela perseguição da cristandade na África".

Os numerosos assassinatos perpetrados "nos dizem que em algumas regiões da África estamos em um momento de perseguição ao cristianismo. Na minha opinião, isto confirma a importância do que estamos fazendo nesta universidade, na qual tentamos com todas as forças colocarmo-nos ao serviço da África".

"Nós consideramos que a África é realmente o continente da esperança. Quer dizer, há uma riqueza de recursos extraordinária em todos os níveis, mas uma riqueza de recursos mal distribuída e que corre o risco de não ser tão eficaz como poderia ser".

"Trata-se de responder a estas duas exortações pós-sinodais de modo concreto, quer dizer, responder pondo atenção aos verdadeiros problemas da África, e buscando encontrar soluções eficazes, só assim, a África poderá ser realmente o continente da esperança, tanto para a Igreja, que espera muito da África, como para a comunidade mundial no nível político e social", concluiu Dom Dal Covolo.
Fonte: http://www.acidigital.com/noticia.php?id=23565

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