Teologia Ascética e Mística: Da Parte de Jesus na Vida Cristã (Parte IV)
Cristo Senhor do Universo |
Jesus Cabeça de um corpo Místico ou Fonte da Vida
Esta doutrina se encontra substancialmente na palavra de Nosso Senhor: "Ergo sum vitis, vos palmites: Eu sou a videira e vós os sarmentos". Jesus afirma efetivamente que nós recebemos dele a nossa vida, como os galhos que recebem da cepa a que estão unidas. Esta comparação faz, pois, sobressair a comunidade de vida que existe entre o Nosso Senhor e nós: daqui é fácil passar à concepção de corpo Místico em que Jesus, como cabeça, faz passar a vida aos seus membros. O Apóstolo São Paulo insiste sobre esta doutrina tão fecunda em resultados.
Representação da Igreja na Idade Média |
1º A cabeça exerce no corpo humano uma tríplice função: função de preeminência, visto ser nele a parte principal; função de centro de unidade, pois que liga harmonicamente e dirige todos os membros; função de influxo vital, já que é dela que parte o movimento e a vida. Ora, é precisamente esta tríplice função, que Jesus exerce na Igreja e nas almas.Tem sem dúvida alguma, a preeminência sobre todos os homens. Ele que como Homem-Deus, é o primogênito de toda a criatura, o objeto das complacências divinas, o modelo acabado de todas as virtudes, a causa meritória da nossa santificação. Ele que, por causa dos seu méritos, foi exaltado de toda criatura e diante do seu trono vê-se dobrar todo o joelho nos céus, na terra e nos infernos.
Na Igreja ele é o centro de unidade. Duas coisas são essências a um organismo perfeito: a variedade dos órgãos e das funções que desempenham, e a sua unidade num princípio comum: sem este duplo elemento não haveria senão uma massa inerte ou um agregado de seres vivos sem nexos orgânicos. Ora, é ainda Jesus que, depois de ter estabelecido na Igreja a variedade dos órgãos pela instituição de uma hierarquia, fica sendo o centro de unidade, pois Ele é o chefe invisível, mas real, que imprime aos chefes hierárquicos a direção e o movimento.
É ele ainda o influxo vital que anima e vivifica todos os membros, até mesmo como homem recebe a plenitude das graças, para assim no-la transmitir: "Vidimus eum plenum gratie et veritatis... de cujus plenitudine nos omnes accepimus, et gratiam pro gratiam" (Jo 1, 14-10). Pois não é Ele a causa meritória de todas as graças que recebemos, e que nos são atribuídas pelo Espírito Santo? É por isso que o Concílio de Trento afirma, sem hesitar, esta ação, este influxo vital de Jesus sobre os justos: "Cum enim ille ipse Chistus Jesus tanquam caput im membra... in ipsos justificatos jugiter virtutem influat" ( Sess IV e VIII - Concílio de Trento).
São Pedro, chefe visível da Igreja |
2º A qualquer corpo não é somente indispensável somente uma cabeça, mas também uma alma. Ora, é o Espírito Santo (isto é a Santíssima Trindade, designada por este nome) que é a alma do corpo místico de que Jesus é a cabeça; é Ele, efetivamente, que difunde nas almas a caridade e as graças merecidas por Nosso Senhor: "Caritas Dei diffusa est in cordibus nostris per Spiritum Sanctum, qui datus est nobis"(Rom 5,5). Eis o motivo pelo qual ele é chamado de o "Espírito que vivifica": "Credo in Spiritum... vivificantem.". Eis a razão pela qual Santo Agostinho diz que o Espírito Santo é para a Igreja o que a alma é para o corpo material: "Quod est in corpore nostro anima, id est Spiritus Sanctus in corpori Christi quod est Ecclesia" (Sermão 187). Esta expressão foi, aliás, consagrada por Leão XIII na sua Encíclica sobre o Espírito Santo. É ainda este Divino Espírito que distribui os diversos carismas: a uns o discursos de sabedoria ou a graça da pregação, a outros o dom dos milagres, a este o dom da profecia, aqueles o dom das línguas, etc.: "Haec autem omnia operatur unus atque idem Spiritus, dividens singulis prout vult". (I Cor 12,6).
(Fonte: Compêndio de Teologia e Ascética e Mística - AD. Tanquerey - 1961)
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