Preparação para a morte: Retrato de um homem que acaba de expirar


PONTO III

Neste quadro da morte, caro irmão, reconhece-te a ti mesmo, e considera o que virás a ser um dia:

"Recorda-te que és pó, e em pó te converterás". Pensa que dentro de poucos anos, quiçá dentro de alguns meses ou dias, não serás mais que vermes e podridão. Este pensamento fez de Jó um grande san-to: "À podridão eu disse: tu és meu pai; aos vermes: sois minha mãe e minha irmã".


Tudo se há de acabar, e se perderes tua alma na morte, tudo estará perdido para ti.

"Considera-te desde já como morto, — disse São Lourenço Justi-niano — pois sabes que necessariamente hás de morrer" . Se já estivesses morto, que não desejarias ter feito por Deus? Portanto, agora que vives, pensa que algum dia cairás morto. Disse São Boaventura que o piloto, para governar o navio, se coloca na ex-tremidade traseira do mesmo; assim o homem, para 14


levar a vida boa e santa, deve imaginar sempre o que será dele na hora da morte. Por isso, exclama São Bernardo:

"Considera os pecados de tua mocidade e cora; considera os pecados da idade viril e chora; considera as desordens da vida presente, e estre-mece", e apressa-te em remediá-la prontamente.


São Camilo de Lélis, ao aproximar-se de alguma sepultura, fazia estas reflexões: Se estes mortos vol-tassem ao mundo, que não fariam pela vida eterna? E eu, que disponho de tempo, que faço eu por minha alma? Este Santo pensava assim por humildade; mas tu, querido irmão, talvez com razão receies ser consi-derado aquela figueira sem fruto, da qual disse o Senhor:

"Três anos já que venho a buscar frutas a es-ta figueira, e não os achei" (Lc 13,7).


Tu, que há mais de três anos estás neste mundo, quais os frutos que tens produzido? Considera — disse São Bernardo — que o Senhor não procura somente flores, mas quer frutos; isto é, não se con-tenta com bons propósitos e desejos, mas exige a prática de obras santas. É preciso, pois, que saibas aproveitar o tempo que Deus, em sua misericórdia, te concede, e não esperes com a prática do bem até que seja tarde, no instante solene quando te diz:

Va-mos, chegou o momento de deixar este mundo. Depressa! O que está feito, está feito.


AFETOS E SÚPLICAS

Aqui me tendes, Senhor; sou aquela árvore que 15

há muitos anos merecia ouvir de vós estas pala-vras: "Cortai-a, pois, para que debalde há de ocu-par terreno?" (Lc 13,7). Nada mais certo, porque, em tantos anos que estou no mundo, ainda não dei frutos senão cardos e espinhos do pecado. Mas vós, Senhor, não quereis que desespere. Dissestes a todos: aquele que me procurar, achar-me-á (Mt 7,7). Procuro-vos, meu Deus, e quero receber vos-sa graça. Detesto, de todo o coração, as ofensas que cometi e quisera morrer de dor por elas. No passado fugi de vós, mas agora prefiro vossa ami-zade à posse de todos os reinos do mundo. Não quero mais resistir ao vosso chamamento. Quereis-me todo para vós e sem reserva entrego-me intei-ramente. Na cruz, destes-vos todo a mim; todo me dou a vós.

Senhor, vós dissestes: "Se pedirdes alguma coisa em meu nome, eu a darei" (Jo 14,14). Meu Jesus, confiado nessa grande promessa, pelo vos-so santo nome e pelos vossos méritos, peço a vos-sa graça e o vosso amor. Fazei que deles se reple-te minha alma, onde antes morava

6 o pecado. A-gradeço-vos por me terdes inspirado o pensamento de dirigir- vos esta oração, sinal evidente de que quereis ouvir-me. Ouvi-me, pois, meu Jesus! Con-cedei-me grande amor por vós, dai-me um grande desejo de agradar-vos e depois a força de cumpri-lo. 16

Ó Maria, minha excelsa intercessora, escutai-me vós também e rogai a Jesus por mim!


Fonte: Preparação para a Morte - Santo Afonso Maria de Ligório

Comentários

POSTAGENS MAIS ANTIGAS