Teologia Ascética e Mística: Da luta contra os ínimígos espirituais

Devemos buscar forças em Deus para superar a
concupiscência
Estes inimigos são a concupiscência. o mundo e o demônio: a concupiscência. inimigo interior que trazemos sempre connosco; o mundo e o demônio, inimigos exteriores, que atiçam o fogo da concupiscência. A Luta contra a "concupiscência ' . S. João descreveu a concupiscência neste texto célebre: «Omne quod est in mundo concupiscentia carnis est et concupiscentia oculorum et superbia vitae» ". O que vamos dizer será a explicação deste texto.

1.0 Concupiscência da carne

193. A concupiscência da carne é o amor desordenado dos prazeres dos sentidos.

A) O mal. O prazer não é mau em si; Deus permite-o, ordenando-o a um fim superior, o bem honesto; se liga o prazer a certos atos bons, é para os facilitar e nos atrair assim ao cumprimento do dever. Gozar o prazer com moderação, referindo-o ao seu fim, que é o bem moral e sobrenatural, não é mal; é até um ato bom, pois que tende a um fim bom, que em última análise é Deus. Querer, porém, o prazer independentemente desse fim que o legitima, querê-lo, por conseguinte, com um fim no qual se pára, é desordem, pois é. ir contra a ordem sapientíssima estabelecida por Deus. E esta desordem arrasta consigo outra: quem opera pelo prazer, fica exposto a amá-lo com excesso, porque já não se guia pelo fim que impõe limites à sede imoderada do prazer que existe em cada um de nós.

191. Assim, por exemplo, quis Deus na sua sabedoria que um certo prazer andasse inerente à comida, para nos estimular a sustentar as forças do corpo. Mas, como bem diz Bossuet , «os homens ingratos e carnais tomaram ocasião deste deleite, para se afeiçoarem ao seu corpo mais que a Deus, que o havia feito... O prazer do alimento cativa-os: em lugar de comerem para viver, parece como dizia um antigo, e depois. dele S. Agostinho, que não vivem senão para comer. Ainda aqueles que sabem regular os seus apetites, e são levados à mesa pela necessidade da natureza, iludidos. pelo prazer, e arrastados mais longe do que convém pelos seus engôdos, são transportados para além dos justos limites;deixam-se insensivelmente ganhar pelo apetite, e não crêem jamais haver satisfeito inteiramente à necessidade, enquanto o comer e o beber lhes lisonjeiam o gosto». Daqui, excessos no comer e beber, opostos à temperança .. E que dizer do prazer, ainda mais perigoso, da volúpia, «dessa profunda e vergonhosa chaga da: natureza, dessa concupiscência que liga a alma ao corpo por laços tão amaviosos e violentos, de que tanto nos custa desprender-nos· e causa também no gênero humano tão espantosas  desordens?

195. Este prazer sensual é tanto mais perigoso quanto é certo que se encontra espalhado por todo o corpo. A vista é por ele inficionada, visto ser pelos olhos que começa a sorver o veneno do amor sensual. Os ouvidos são por ele infectados, quando, por meio de conversas perigosas e cantos eivados de moleza, se acendem ou se alimentam as chamas do amor impuro e essa disposição secreta que temos para os gozos sensuais. E o mesmo se diga dos outros sentidos. O que aumenta o perigo, é que todos esses prazeres sensuais se excitam uns aos outros; aqueles que seríamos levados a ter por mais inocentes, se não estamos continuamente de sobreaviso, preparam o caminho aos mais culpáveis. Há até mesmo uma certa moleza e delicadeza espalhada em todo o corpo que, levando-nos a buscar descanso no sensível. o despertam e lhe mantêm a viveza. Ama-se o corpo com uma paixão que faz esquecer a alma; um cuidado excessivo da saúde faz que se lisonjeie o corpo em tudo, e todos estes sentimentos são outros tantos ramos da concupiscência da carne

(Fonte: Compêndio de Teologia e Ascética e Mística - AD. Tanquerey - 1961)

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