Liturgia Católica: FIM DAS CERIMÔNIAS



9. FIM DAS CERIMÔNIAS

Comentando as declarações do Concilio Tridentino (S. 22, c. 4 et 5) e do papa Sisto (Bula Immensa, 1588) na ocasião de instituir a S. C. dos Ritos, podemos dizer que o fim das cerimônias é:

1. Estético, pois as cerimônias servem para "realçar a majestade" do ato. A estima do povo cresce na razão direta da pompa exterior de uma solenidade (inauguração de academia, de estátua, chegada duma personagem de destaque; entrada de Jesus em Jerusalém, último juízo). Este fim obtém-se pelo número' elevado de ministros, pela preciosidade dos paramentos, etc.

2. Latrêutico, para exprimir a adoração: "para que o espírito do povo se levante para Deus", praticando os atos de fé, esperança e caridade, e adoração. Tais cerimônias são a genuflexão, a inclinação da cabeça ao nome de Jesus, à elevação da santa hóstia, o estender dos braços, o levantar das mãos na oração.

3. Simbólico. Há cerimônias que não foram introduzidas pela Igreja para ter significação simbólica. Já Durandus¹ observa (Durandus, Rationale; prooem. n.° 17) : "Cumpre bem notar que existe na recitação do divino ofício bom número de costumes, que não foram instituídos expressamente para ter significação moral ou mística. Mas, como se vê, alguns por causa da necessidade, outros por causa da oportunidade, outros por causa da sua conveniência, alguns por causa da maior solenidade dos mesmos ofícios, pouco a pouco se introduziram."

Esta circunstância foi exagerada por alguns; rejeitaram qualquer explicação simbólica das cerimônias. (Vert t 1708.) Mas logo outros declararam que tal afirmação contradiz a doutrina sobre os sacramentos, onde a matéria indica o efeito. A explicação simbólica deve-se admitir. O uso dos símbolos condiz com a natureza humana que, com auxílio das coisas perceptíveis aos sentidos, mais facilmente compreende certas verdades; com a sagrada escritura (os muitos símbolos do rito no antigo testamento) ; com o costume cristão (peixe, cordeiro) e da própria Igreja: pela mistura da água com o vinho "é simbolizada a união do povo cristão com Cristo, sua Cabeça" (Trid. s. 22 de sacr. missa c. 7); com a doutrina de S. Tomás (III, q. 83 a. 5).

Um dos mais conhecidos símbolos da escritura é a videira. Nosso Senhor tornou-a por símbolo de sua íntima união com a Igreja, facilitando assim a compreensão deste mistério. Pois os israelitas bem o conheciam como simbolo do povo de Deus, pelas palavras dos profetas (Oséias 10, 1), e mais ainda pela videira monumental que Herodes I tinha mandado colocar na entrada do templo de Jerusalém. Obra de arte e beleza única, estendia-se acima e em redor da porta gigantesca de 70 côvados (c. 35 m) de altura, guarnecendo-a completamente. Os ramos, as gavinhas e as folhas eram de ouro puro; os cachos de uva tinham o tamanho de homem, os bagos eram pedras preciosas. Judeus ricos e patriotas aumentaram na com novas uvas, novas folhas, e novos bagos. O valor talvez era de muitos bilhões de cruzeiros. De noite resplandecia iluminada com profusão; era o orgulho da nação. Com razão diz Durandus (prosem. n.° 1) : "Tudo quanto se acha nos ofícios da Igreja, nos seus objetos e ornamentos, está cheio de sinais e mistérios e transborda de doçura celeste, contanto que haja quem reflita atentamente."

Estes sinais ou símbolos são morais ou místicos.

a) Os morais indicam verdade relativa à moral, p. ex., as vestiduras sacras, cuja. significação é indicada nas orações prescritas para benzê-las ou vesti-las.

b) Os místicos indicam coisa' fora da que é indicada pelo texto ou pela ação, p. ex., a mistura de água e vinho simbolizam a união da natureza humana com a natureza divina em Jesus Cristo, e a união do povo cristão com Cristo.

Este simbolismo estende-se a todos os objetos do culto. No rito da ordenação dos subdiáconos a Igreja diz: "O altar da santa Igreja é Cristo, como S. João no seu apocalipse afirma ter visto um altar de ouro colocado, perante o trono, no qual e pelo qual as ofertas dos fiéis são consagradas a Deus Padre. As toalhas e corporais são Os membros de Cristo, os fiéis..." Onde não há explicação oficial, permitem-se explicações privadas prudentes. Isto vale especialmente da missa. Já no fim do século VII, pela primeira vez foi explicada como representação da vida, paixão e e glorificação de Nosso Senhor. (Expos. br. Antiqu liturgia gall., Eisenh. I, 120.)

1. (Também: Duranti ou Durantis). Canonista e um dos mais importantes escritores de liturgia medieval ; nascido por volta de 1237, em Puimisson na Diocese de Béziers em Provence, e morreu em Roma no dia 01 de novembro de 1296. Ele foi chamado de o Negociador devido ao título de uma de suas obras, Speculum Judiciale. Ele estudou Direito em Bolonha em Bernardo de Parma e, em seguida, ensinou em Modena
Fonte: Curso de Liturgia - 2ª Edição - Pe. João Batista Reus, S. J. - Ed Vozes Limitada - Petrópolis - Rj 1944 glorificação de Nosso Senhor. (Expos. br. Antiqu liturgia gall., Eisenh. I, 120.)

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