Santo Ofício: Desmascarando as Testemunhas de jeová - Deve se acreditar na Trindade? (Parte II)

4. A antiga Tradição
Na geração que se seguiu imediatamente aos Apóstolos, há testemunhos de fé trinitária em continuidade com os do Novo Testamento. Tenham-se em vista, por exemplo, os seguintes:
1) o rito batismal era ministrado em nome das três Pessoas Divinas, em conformidade com Mt 28,19. Assim atesta a Didaqué, catecismo da Igreja nascente redigido no fim do século I:
"No que diz respeito ao Batismo, batizai em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo em água corrente. . . Derramai três vezes água sobre a cabeça em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo" (no 7).
S. Justino (+165 aproximadamente) escreve:
"Os que devem ser batizados, são levados por nós a um lugar onde haja água, e são regenerados da mesma maneira como nós fomos regenerados. Com efeito; é em nome do Pai de todos e Senhor Deus e de nosso Salvador Jesus Cristo e do Espírito Santo que recebem a loção na água. Este rito nos foi entregue pelos Apóstolos" (Apologia I, no 61).
Tertuliano (+220): "Foi estabelecida a lei de batizar e prescrita a fórmula: 'Ide, ensinai os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo' (Mt 28,19)" (De Baptismo c 13).
2) Os escritores mais antigos expressam a sua fé trinitária em passagens como:
"Um Deus, um Cristo, um Espírito de graça" (S. Clemente Romano, +100 aproximadamente, Aos Coríntios 46,6).
"Como Deus vive, vive o Senhor e vive o Espírito Santo" (S. Clemente Romano, ib. 58,2).

"Vos sois as pedras do templo do Pai, elevado para o alto pelo guindaste de Jesus Cristo que é sua Cruz, com o Espírito Santo como corda" (S. Inácio de Antioquia, 1107, Aos Efésios 9,1). •

"Mantende-vos. . . na fé e na caridade, no Filho e no Pai e no Espírito, no princípio e no fim. . . Sede submissos ao Bispo e uns aos outros, como Cristo segundo a carne se submeteu ao Pai, e os Apóstolos a Cristo e ao Pai e ao Espírito, a fim de que a unidade seja, ao mesmo tempo, carnal e espiritual" (Aos Magnésios, 13,1s).

"Eu te louvo, Deus da verdade. Te bendigo, Te glorifico por teu Filho Jesus Cristo, nosso eterno e sumo Sacerdote no céu; por Ele, com Ele e o Espírito Santo, glória seja dada a Ti, agora e nos séculos futurosl Amém" (S. Policarpo, 1/56, Martírio, 14,1-3).

"Já temos mostrado que o Verbo, isto é, o Filho esteve sempre com o Pai. Mas também a Sabedoria, o Espírito estava igualmente junto dele antes de toda a criação" (S. Ireneu, acerca de 202, Adversus Haereses IV 20,4).

Muito significativo é o texto do apologista cristão Atenágoras, +180:

"Como não se admiraria alguém de ouvir chamar ateus os que admitem um Deus Pai, um Deus Filho e o Espírito Santo, ensinando que o seu poder é único e que sua distinção é apenas distinção de ordens?" (Súplica pelos Cristãos, c 10).-,

3) A palavra "tríade" ou "trindade" (triás, em grego) aparece pela primeira vez nos escritos de Teófilo de Antioquia (+ após 181), exprimindo de maneira mais sistemática a doutrina consagrada pela S. Escritura; com efeito, ao referir-se aos dias da criação em Gn 1, diz o autor: "Os três dias que precedem o aparecimento dos luzeiros, são tipos da Trindade: de Deus, de seu Verbo e de sua Sabedoria" (A Autólico, I. II, c. 14). O fato de que Teófilo usa a palavra triás como um termo corrente, sem necessidade de explicação, leva a crer que tal vocábulo não foi introduzido por Teófilo, mas já era usual antes dele.

No século III, como se compreende, a fé dos cristãos na SS. Trindade se manifesta ainda mais eloqüentemente. Os dados bíblicos suscitaram nos teólogos da Igreja o desejo de penetração sistemática, pois a teologia é fides quasrens intellectumfé que procura compreender. Registrou-se então o debate teológico, do qual vão, a seguir, reproduzidos os principais traços.

5. As controvérsias trinitárias
As primeiras tentativas de conciliar unidade e trindade em Deus foram falhas: tendiam a subordinar o Filho ao Pai (o Espírito Santo era menos estudado). Tal teoria nos séculos II e III tomou o nome de monarquianismo (defendia a monarquia divina).
No século IV, o subordinacionismo foi representado por Ario de Alexandria a partir de 315: afirmava ser o Filho a primeira e mais excelente criatura do Pai. Tendo sido concedida a paz aos cristãos em 313, compreende-se que a controvérsia tenha tomado vulto que nunca tivera. Em conseqüência, reuniu-se o primeiro Concílio Ecumênico da história em Nicéia (Ásia Menor) no ano de 325, o qual redigiu uma profissão de fé, que afirmava:
"Cremos. . . em um só Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, nascido do Pai como Unigênito, isto é, da substância do Pai, Deus de Deus, luz da luz. Deus verdadeiro, gerado, não feito, consubstancial com o Pai, por guem foi feito tudo que há no céu na terra" (DS 125 [54]).
Vê-se que o texto acentua a identidade de substância do Pai e do Filho para afirmar que o Filho não foi criado (quem cria, tira do nada), mas gerado (quem gera se prolonga no filho gerado); o Filho é Deus de Deus, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro.
Todavia a disputa não se encerrou em 325. Entre outras questões, restava a das relações do Espírito Santo com o Pai e o Filho. Após decênios de debates, reuniu-se o Concílio de Constantinopla I em 381, que acrescentou à profissão nicena de fé os dados referentes ao Espírito Santo:
"Cremos no Espírito Santo, Senhor e fonte de vida, que procede do Pai (cf. Jo 15,26), com o Pai e o Filho é adorado e glorificado, o qual falou pelos Profetas" (DSn° 150 [86]).
Afirmando que o Espírito Santo é adorado com o Pai e o Filho, os padres conciliares queriam incutir a identidade de substância (ou a Divindade) do Espírito Santo com o Pai e o Filho. Não há, pois, subordinação do Espírito ao Filho ou ao Pai.
Só foi possível aos teólogos chegar à formulação exata do dogma após recorrerem à distinção entre ousía (essência, natureza) e hypóstasis (pessoa). Aquela é única (a Divindade); as pessoas, porém, são três, sem esfacelar nem retalhar a natureza divina, como três são os ângulos de um triângulo sem esfacelar a superfície do triângulo.
A filosofia grega, que primava pelo seu acume lógico, forneceu aos teólogos cristãos o instrumental necessário para que pudessem elaborar a reta fórmula da fé. Não há inconveniente na utilização da razão e dos seus conceitos para se ilustrarem as verdades da fé, contanto que se preserve incólume o conteúdo de Revelação divina. O recurso à filosofia grega não implicou em helenização do Cristianismo; os cristãos eram muito ciosos da identidade da sua fé, a ponto de morrerem como mártires para não a trair. De resto, o estudo objetivo e sereno das Escrituras do Antigo e do Novo Testamento bem mostra que a doutrina da SS. Trindade é genuinamente bíblica; foi professada na Igreja antes de qualquer apelo à filosofia grega.
O mistério da SS. Trindade estará sempre acima do alcance da razão humana, como, aliás, a vida do próprio Deus em sua unidade é "algo que o olho não viu, o ouvido não ouviu, o coração do homem jamais percebeu" (1Cor 2,9). Isto, porém, não quer dizer que a razão humana não possa descobrir nos seus conceitos e na imagem das criaturas noções que ilustrem de algum modo o mistério de Deus; é precisamente esta a tarefa da teologia. Como todos os estudiosos, os teólogos procedem lentamente, formulando teorias e hipóteses, que o debate vai eliminando e purificando; assim preparam a via para o magistério oficial da Igreja, que não raro mediante Concílios foi definindo nos primeiros séculos as genuínas fórmulas da fé católica.
Podemos aqui referir ainda a objeção que as Testemunhas levantam contra o dogma trinitário, ao dizerem que 1 + 1 + 1 = 3, ou seja, se o Pai é Deus, se o Filho é Deus, se o Espírito Santo é Deus, temos três deuses. Ao que respondemos na mesma linguagem popular: 1x1x1 = 1; vê-se, pois, que a trindade não exclui a unidade desde que o fiel cristão a entenda devidamente: em Deus as três pessoas não multiplicam a natureza e a substância divina, como os três ângulos de um triângulo não multiplicam a figura geométrica.
Quanto à tendência a identificar o Espírito Santo com a Mãe do Filho, ao lado do Pai, na SS. Trindade, deve-se a uma corrente judaica representada pelo apócrifo "Evangelho dos Hebreus" (datado dos séculos I/II). Teve origem em uma seita judeo-cristã dita dos "Nazarenos de Beréia", que estavam distantes das linhas doutrinárias dos demais cristãos; queriam, por exemplo, eliminar do Novo Testamento as epístolas de S. Paulo, tido como apóstata da Lei de Moisés; menosprezavam os Evangelhos canônicos para se aterem somente ao Evangelho segundo os Hebreus. Tal corrente não encontrou ressonância no Cristianismo; em conseqüência, também a interpretação aí dada ao Espírito Santo e à SS. Trindade não teve continuidade.
6. Jeová ou Javé?

As Testemunhas de Jeová têm como fundador Charles-Taze Russell (1852-1916), nascido em Pittsburg (U.S.A.) de família presbiteriana. Em 1870 tornou-se adventista. Como tal, refez os cálculos referentes à segunda vinda de Cristo, que os adventistas tinham previsto para 1843/44; Russell assinalou-a para 1914 e, finalmente, para 1918. Infelizmente, porém, Russell faleceu em 1916.
O sucessor foi o juiz Rutherford, que, tendo ido à Europa em 1920, aí anunciou o início da idade de ouro para 1925. Esse novo líder da seita, até então dita "dos Estudiosos da Bíblia", fez que tomasse o nome de "Testemunhas de Jeová". Rutherford morreu em 1942.
Atualmente as Testemunhas têm seu centro principal em Brooklyn (Nova Iorque), onde são editados dois jornais também traduzidos para o português: 'Torre de Vigia" e "Despertai-vos!"
As Testemunhas acentuaram o retorno ao Antigo Testamento, que os Adventistas já tinham iniciado. Chegam ao ponto de negar a SS. Trindade; chamam Deus pelo apelativo Jeovah, forma tardia e errônea do nome Jahweh. — Com efeito; o nome com que Deus se revelou a Moisés é Vahweh (cf. Ex 3,13-17). Tal era a reverência tributada a este apelativo que os judeus não o ousavam pronunciar a partir do exílio (século VI a.C). Era tido como "o nome que se escreve, mas não se lê". Ao encontrarem escrito tal nome, os Israelitas pronunciavam Adonay (1) (= meu Senhor). Em conseqüência, após o século VI d.C. os rabinos fizeram a fusão das consoantes de I H W H com as vogais de E d O n A y; donde resultou JEHOWAH. Notemos, porém, que ainda no início da Idade Média a pronúncia do vocábulo assim oriundo era sempre Adonay. A pronúncia Jeová é, pela primeira vez, atestada por Raimundo Martini, autor da obra "Pugio Fidei" no ano de 1270; parece, porém, que já estava em uso nas escolas rabínicas anteriores. Só foi adotada pelos cristãos no século XVI; principalmente os protestantes, tendo à frente o calvinista Teodoro Beza de Genebra, lhe deram voga, de modo que as Bíblias protestantes de língua inglesa freqüentemente aduzem o nome Jeová.
Além disto, para as Testemunhas de Jeová, Jesus Cristo é apenas criatura. Esta afirmação faz cair por terra todo o edifício do Cristianismo.
Vê-se, pois, como é infundada a posição antitrinitária das Testemunhas: nem na Bíblia, nem na Tradição encontra apoio; faz, antes, parte da tendência das Testemunhas a retornar ao Antigo Testamento em detrimento da Revelação de Nosso Senhor Jesus Cristo.

(1) O primeiro era mudo, correspondendo a um e.

7. A SS. Trindade e as fórmulas pagãs
O estudo das religiões comparadas mostra que em algumas correntes religiosas aparecem tríades.
1. A mais simples é a de Pai, Mãe e Filho, ocorrente no Egito antigo sob a forma de Osíris, Isis e Horus. - Ora tal concepção antropomórfica está bem distante da Revelação cristã; o Espírito Santo não é a Mãe de Deus Filho nem é a Esposa de Deus Pai. Ademais a noção do Filho de Deus feito homem e crucificado é totalmente estranha às tradições do Egito e dos povos antigos em geral.
2. Na Índia existe a Trimurti. Tri lembra o no 3, ao passo que murti, em sânscrito e em híndi, quer dizer: corpo sólido, matéria, forma e, principalmente, estátua ou imagem. Designando imagem, murti significa também uma manifestação divina. Trimurti seria, portanto, a tríplice manifestação da Divindade.
Há diversas Trimurti ou manifestações da Divindade na Índia. Assim, por exemplo, existe a Tríade:
Brahma, princípio criador do mundo (ou princípio donde emana o mundo, visto que a noção de produzir a partir do nada ou criar era estranha à Índia); Vishnu, princípio protetor do mundo; Shiva, princípio destruidor do mundo.
Todavia na concepção do hinduísmo não há igualdade entre essas três manifestações da Divindade: Brahma é o deus supremo, impessoal, que no plano dos fenômenos ou das aparências, se manifesta em três deuses diferentes. Brahma assim pode aparecer como a Divindade em seus três aspectos de Criador, Conservador e Destruidor do mundo. Quase não há templos dedicados a Brahma, ao passo que os templos e oratórios consagrados a Vishnu e Shiva se contam aos milhares.
O pensamento filosófico hinduísta pode também dizer que Brahma é, ao mesmo tempo, Existência (Sat), Consciência (Cft) e Felicidade (Ananda) ou Sacádanandabrahma. Estas concepções se distinguem bem da noção cristã de Pai, Filho e Espírito Santo.
A índia é o berço de uma multidão de concepções religiosas, de modo que na mitologia e na iconografia shivaítas, Brahma e Vishnu são algumas vezes um tanto ridicularizados. A tendência do pensamento hinduísta não é a de fazer alternativas e exclusivismos, mas, antes, prefere as sínteses e as complementações (em lugar das oposições).
Encontram-se na índia outras tríades:
Agni, o deus Fogo; Vayu, o deus Vento; Surya, o deus Sol, cada qual reinando no seu próprio setor, ou respectivamente sobre a terra, os ares e o céu.
Sejam mencionados outrossim: os três Vedas ou tipos de escritos sagrados, os três fogos do sacrifício, o tríplice mundo, os três gumas ou qualidades constitutivas do universo .. .
O número 3 é tão estimado pelos antigos e, por isto, tão utilizado na Mística, porque lembra o triângulo eqüilátero, que é imperturbável ou inderrubável e invencível. Três, em conseqüência, era tido como símbolo de perfeição.
A SS. Trindade cristã, embora pareça corresponder à tendência meramente humana de valorizar o número 3, tem um significado e conteúdo teológico que a distanciam de qualquer tríade não cristã, como se verá às pp. 16-21 deste fascículo.
Não nos surpreende o fato de que a SS. Trindade seja considerada um mistério. . . Trata-se da essência do próprio Deus, que definimos como sendo a máxima perfeição; por conseguinte, há de ultrapassar, em riqueza de vida, os limites da inteligência humana. Ultrapassa, porém, sem contradizer as verdades racionais ou a lógica.
A própria fé é um ato racional. Com outras palavras: quem crê, não está renunciando à sua racionalidade. Ao contrário, está a exercê-la, pois a própria razão humana afirma ao homem que a verdade não acaba onde os horizontes do raciocínio acabam. A lógica nos leva a crer; é inteligente ter fé.
A propósito ver
CURSO DE INICIAÇÃO TEOLÓGICA POR CORRESPONDÊNCIA, Módulos 6 e 7, Rua Benjamin Constant, 23, 39 andar. Caixa Postal 1362, 20001 Rio de Janeiro (RJ).

GOMES, CIRILO FOLCH, Riquezas da Mensagem Cristã, 1979.
PATFOORT, ALBERT, O mistério, do Deus Vivo, Ed. Lumen Christi, Caixa Postal 2666, Rio de Janeiro (RJ).

Fonte: Pergunte e Responderemos 1438

Comentários

POSTAGENS MAIS ANTIGAS