Teologia Ascética e Mística: Conclusão

A vida cristã é, como acabamos de ver (nos artigos anteriores), uma luta; luta penosa que, com variadas peripécias, não termina senão na morte. luta de importância capital, pois que nela se joga a vida eterna. Como ensina São Paulo, há em nós dois homens:

a) O homem regenerado, o homem novo, com tendências nobres, sobrenaturais, divinas, que o Espírito Santo produz em nós, graças aos méritos de Jesus e a intercessão da Santíssima Virgem e dos Santos; tendências, a que nos esforçamos por corresponder, pondo em ação, sob a influência da graça atual, o organismo sobrenatural de que Deus nos dotou.

b) Mas, ao lado do homem natural, o homem carnal, o homem velho, com as tendências más; que o batismo não desarraigou de nossa alma: é a tríplice concupiscência, que temos da nossa primeira geração, e que o mundo e o demônio despertam e intensificam; tendência habitual que nos leva ao amor desordenado dos prazeres sensuais, da nossa própria excelência e dos bens da terra. Estes dois homens entram fatalmente em conflito: a carne ou o homem velho; deseja e procura o prazer, sem se lhe dar da sua moralidade; o espírito bem lhe recorda que há prazeres proibidos e perigosos que é mister sacrificar ao dever, isto é, a vontade de Deus; mas, como a carne persiste em seus desejos, a vontade, ajudada pela graça, é obrigada a mortificá-la e, se necessário for, a crucificá-la. O cristão é, pois um soldado, um atleta que combate por uma coroa imortal, até a morte.

Esta luta é perpétua: porquanto, apesar dos nossos esforços, não podemos desembaraçar-nos jamais do homem  velho; não podemos senão enfraquece-lo, encadeá-lo, e fortificar ao mesmo tempo o homem novo contra os seus ataques. Ao princípio, é pois, mais viva a luta, mais encarniçada, e as contra-ofensivas do inimigo são mais numerosas e violentas. A medida porém, que por meio de esforços energéticos e constantes, vamos ganhando vitórias, o inimigo vai enfraquecendo, as paixões acalmam, e salvo certos momentos de provações mandadas por Deus para nos elevar as mais alta perfeição, gozamos de relativo sossego, preságio da vitória definitiva. E é graças a Deus que devemos a vitória. Não esqueçamos porém, que as graças que são dadas, são graças de combate, e não de repouso, que somos lutadores, atletas, ascetas, e que devemos como São Paulo, lutar até o fim, para merecer a nossa coroa: "Combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé. Não me resta mais que receber a coroa de justiça que me dará o Senhor"; "Bonum certamen certavi cursum consummavi fidem servavi in reliquo reposita est mihi justitiæ corona quam reddet mihi Dominus in illa die justus judex non solum autem mihi sed et his qui diligunt adventum ejus" (II Tim 4, 7-8).

Pg 140 e 141

(Fonte: Compêndio de Teologia e Ascética e Mística - AD. Tanquerey - 1961)
 

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