Teologia Ascética e Mística: Da Parte da Santíssima Virgem, dos santos e dos anjos na vida cristã (Parte IX)

 Da parte dos Santos na vida cristã

177. Os Santos, que possuem a Deus no céu, interessam-se pela nossa santificação e ajudam-nos a progredir na prática das virtudes pela sua poderosa intercessão e nobres exemplos que nos deixaram: devemo-los pois venerar; são poderosos intercessores: devemo-los invocar; são nossos modelos; devemo-los imitar.

178. 1.0 Devemo-los venerar; e, fazendo-o, é o próprio Deus, é Jesus Cristo que veneramos neles. Tudo o que neles há de bom é, efetivamente, obra de Deus, e de seu divino Filho, O seu ser natural .não é mais que um reflexo das perfeições divinas; as suas qualidades sobrenaturais são obra da graça divina merecida por Jesus Cristo, incluindo os seus atos meritórios que, com serem propriedade deles, neste sentido que por seu livre consentimento neles cooperaram com Deus, são também e principalmente dom daquele que é sempre a sua causa primeira e eficaz: «Coronando meriia coronas et dona iue», Honramos, pois nos Santos: a) os santuários vivos da 55.m. Trindade, que se dignou habitar neles, ornar a sua alma das virtudes e dos dons, atuar sobre as suas faculdades, para lhes fazer produzir livremente atos meritórios e conceder-lhes a graça insigne da perseverança; b) os filhos adoptivos do Pai, por Ele singularmente amados, envolvidos pela sua paternal solicitude, a que souberam corresponder, aproximando-se pouco a pouco da sua santidade e perfeições; c) os irmãos de Jesus Cristo, seus membros fiéis que incorporados no seu corpo místico receberam dele a vida espiritual e' a cultivaram com amor e constância; d) os templos e os agentes dóceis do Espírito Santo, que se deixaram guiar por Ele, pelas suas inspirações, em lugar de seguir cegamente as tendências da natureza corrompida. 'São estes os pensamentos que tão perfeitamente exprime M. Olier 1: «Podereis para isso adorar com profunda veneração essa vida de Deus derramada em todos os Santos: honrareis a Jesus Cristo amando-os a todos e consumando-os pelo seu divino Espírito, para fazer de todos uma só coisa nele ... Ele' é que é nos Santos o cantor dos louvores divinos; Ele é que lhes põe todos os seus cânticos nos lábios; por Ele é que todos os Santos o louvarão por toda a eternidade».

179. 2." Devemo-los invocar, para obtermos mais facilmente, pela sua poderosa intercessão, as graças de que precisamos. Não há dúvida que só a mediação de Jesus é necessária, e basta plenamente em Si mesma; mas, precisamente por serem membros de Jesus ressuscitado, os Santos juntam as suas orações as dele: e, pois, todo o corpo místico do Salvador que ora e faz assim uma doce violência ao coração de Deus. Orar com os Santos, é, pois, unir as nossas orações às de todo o corpo místico e assegurar-lhes a eficácia. Por outro lado, os Santos exultam de interceder por nós: «Eles amam em nós irmãos nascidos do mesmo Pai; têm compaixão de nós; lembrando-se, à vista do nosso estado, daquele em que eles mesmos se encontraram,  reconhecem em nós almas que devem, como eles, contribuir para a glória de Jesus Cristo. Que alegria não experimentam eles, quando podem encontrar associados que os ajudem a tributar as suas homenagens a Deus e a satisfazer o seu desejo de magníficar a Deus por centenas e centenas de milhar de bocas se as tivessem!» 1 Assim, pois, o seu poder e bondade devem-nos inspirar plena confiança. É sobretudo celebrando as suas festas que os invocaremos de todo especial; assim entraremos na corrente litúrgica da Igreja, e participaremos das virtudes particulares praticadas por este ou por aquele santo.

180. 3º Devemos sobretudo imitar as suas virtudes .. Todos se esmeraram em reproduzir os traços do divino modelo e todos nos podem repetir a palavra de S, Paulo: «Sede meus imitadores, como eu o fui de Jesus Cristo: Imitatores mei esta te sicut et ego Christi». Mas cultivaram quase sempre uma virtude característica: uns a integridade da fé, outros a confiança ou o amor; uns o espírito de sacrifício, a humildade, o pobreza; outros a prudência, a fortaleza, a temperança ou a castidade. A cada um pediremos mais; particularmente a virtude em que sobressaiu, bem persuadidos de que tem graça especial para no-Ia obter. . .

181. Eis o motivo por que a nossa devoção se dirigirás sobretudo aos Santos que viveram na mesma condição que nós, ocuparam empregos semelhantes e praticaram a virtude que nos é mais necessária. Colocando-nos em outro ponto de vista, teremos também devoção particular aos nossos santos padroeiros, vendo na escolha que deles foi feita uma indicação providencial de que devemos tirar proveito. Mas, se por motivos especiais, os atrativos da graça nos levam para este ou para aquele santo, cujas virtudes se harmonizam melhor com as necessidades de nossa alma, nada nos impede de nos darmos à sua imitação, tomando o parecer dum sábio diretor.

182. Assim compreendida, a devoção aos Santos é extremamente útil os exemplos daqueles que tiveram as mesmas paixões que nós, passaram pelas mesmas tentações e, apesar de tudo, sustentados pelas mesmas graças, alcançaram a vitória, são um poderoso estímulo que nos faz corar da nossa covardia, tomar enérgicas resoluções e fazer esforços constantes, para as pôr em execução, sobretudo quando nos lembramos da palavra de S. Agostinho: «Tu non poteris. quod isti, quod istae?» As suas orações acabarão a obra e auxiliar-nos-ão a seguir as suas pisadas.

(Fonte: Compêndio de Teologia e Ascética e Mística - AD. Tanquerey - 1961)

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