Liturgia II: O DESENVOLVIMENTO DA LITURGIA


44. 1. A Liturgia divina. No antigo testamento todo o culto do povo de Israel foi ordenado por lei divina. Os deveres múltiplos dos sacerdotes israelitas, bem como o modo de oferecer os vários sacrifícios, foram minuciosamente revelados por Deus a Moisés, que os fixou no livro Levítico. A Igreja do novo testamento devia abranger todos os povos do mundo, tão distantes, tão diferentes em costumes. Um novo culto público tornou-se indispensável. O Legislador divino criou-o e estatuiu para a nova Liturgia, que consiste mormente na missa, umas poucas leis, encarregando a sua Igreja de alargá-las com cerimônias convenientes, sob a direção do Espírito Santo. As partes essenciais da missa, a forma essencial dos sacramentos, o Padre Nosso formam os elementos da Liturgia divina.



45. 2. A Liturgia apostólica. Os apóstolos contentaram-se a princípio com os poucos ritos divinos e acompanháramos com as orações e algumas cerimônias, qué conheciam do templo. 0 próprio Salvador tinha empregado antigos e novos ritos; pois tinha preparado a primeira consagração eucarística com o rito da páscoa antiga. Esta ordem conservou-se nas duas partes da missa: a missa dos catecúmenos e a missa dos fiéis. Na primeira havia orações e leitura da sagrada Escritura, na segunda a consagração; divisão esta que se encontra desde o princípio do cristianismo.



46. Os apóstolos usaram o seu direito litúrgico. S. Paulo, p. ex., ordenou que as mulheres viessem para a reunião dos fiéis de cabeça velada. (1 Cor 11.) 47. Também foi sempre tradição da igreja que na Liturgia há partes instituídas por eles. S. Basílio (t 379) diz que os ritos litúrgicos, usados por toda parte e cujo autor é desconhecido, dimanam da autoridade dos apóstolos. Portanto, a leitura cita escritura sagrada, o Sursurn corda e as outras saudações e respostas antes do prefácio, o cânon, foram introduzidos por eles.



48. Quando se disse a primeira missa pelos apóstolos, não sabemos. Mas é provável que fosse no próprio dia de Pentecostes; pois a missa é a parte essencial do culto da Igreja, que neste dia principiou a desempenhar as funções sagradas. (Bellarm., De cultu Sanctor. III, c. 11.) A Igreja costumava dar logo aos batizados a s. comunhão. Maria SS. desejava tanto receber Jesus Cristo nas espécies sacramentais. S. Tomás diz: celebramos a instituição do SS. Sacramento especialmente naquele tempo, em que o Espírito Santo ensinou os corações dos discípulos a conhecer perfeitamente os mistérios deste sacramento. Pois também no mesmo tempo foi que os fiéis começaram a receber este sacramento. (S. Tomás, Opúsc. 57, II die infra oct. Corp. Chr.) Bento XIV (Inst. 21. n. 13; Festa Dom. c. 11, n. 42) cita o opinião do cardeal Bona, de que antes de pentecostes não se podia propriamente dizer a missa; pois não convinha oferecer o novo sacrifício, enquanto o sacerdócio ainda não fora transferido. Concorda com isto a escritura sagrada. Pois diz que os apóstolos antes da vinda do Espírito Santo perseveraram unânimes em oração (At 1, 14), sem mencionar a comunhão do pão, por não haver ainda missa. Tendo recebido o Espírito Santo, continuaram na "comunhão da fração do pão". (At 2, 42.) Pois então havia missa e comunhão.



49. 3. A Liturgia primeva eclesiástica. Os apóstolos legaram aos seus sucessores o poder sobre a Liturgia e o cuidado dela. Fixá-la inteiramente foi impossível por causa das perseguições e do segredo severo relativo aos santos mistérios. Os cristãos, quase sempre acossados pelos satélites dos tiranos, não queriam deixar cair nas mãos dos pagãos um livro completo dos seus ritos santos. Mais tarde, conformando-se com os costumes do povo respectivo, os bispos adotaram também cerimônias, já conhecidas, contanto que não fossem contrárias à doutrina cristã, ou próprias do paganismo.

Esta formação deu-se, antes de tudo, nos grandes centros de civilização. Pois sabemos que os apóstolos procuravam de preferência cidades importantes: Antioquia, Corinto, Éfeso, Roma. Os seus sucessores fizeram o mesmo. Em redor das suas cidades episcopais fundaram outras comunidades religiosas, dependentes do centro também quanto à Liturgia. Pois eram sacerdotes da metrópole que plantavam a nova vinha do Senhor. Pouco a pouco, formou-se uma Liturgia comum a muitos lugares e finalmente a uma região inteira.



50. Como este processo natural se efetuasse igualmente no Oriente e no Ocidente, originaram-se várias Liturgias, consentâneas nos ritos essenciais, diferindo, porém, nas cerimônias acidentais. As modificações tinham a origem nos esforços de paralisar a influência dos costumes pagãos e, mais tarde ao menos, na influência de príncipes, de mosteiros, de homens insignes ou de piedade privada. Principiou esta formação em maior escala depois de terminar a perseguição pagã pelo edito de Milão em 313; mas o poder dos bispos foi cada vez mais restringido, até que, finalmente, o direito litúrgico foi reservado aos concílios provinciais. (Conc. tolet. 633, cân. 12.) Já que o desenvolvimento percorreu as mesmas fases nas Igrejas orientais e ocidentais, devemos distinguir Liturgias orientais e ocidentais.


Fonte: Curso de Liturgia - 2ª Edição - Pe. João Batista Reus, S. J. - Ed Vozes Limitada - Petrópolis - Rj 1944

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