Nossa Senhora do Sábado: Nossa Senhora da Caridade do Cobre (Cuba)
(Revista Catolicismo Novembro 1999)
Nossa Senhora da Caridade – Padroeira da desditada Cuba, outrora conhecida como Ilha da Ave Maria. Primeiro, pelos felizes protagonistas do milagre: dois irmãos indígenas, João e Rodrigo de Hoyos, e um crioulo, João Moreno, todos eles adolescentes e trabalhadores numa fazenda. Portanto nada revelavam de especial. Por que motivo foram escolhidos? Mistério...
Nossa Senhora da Caridade – Padroeira da desditada Cuba, outrora conhecida como Ilha da Ave Maria. Primeiro, pelos felizes protagonistas do milagre: dois irmãos indígenas, João e Rodrigo de Hoyos, e um crioulo, João Moreno, todos eles adolescentes e trabalhadores numa fazenda. Portanto nada revelavam de especial. Por que motivo foram escolhidos? Mistério...
Em segundo lugar, pela forma mediante a qual foi
encontrada a imagem: boiando no mar sobre uma tábua, na qual estava escrita:
"Eu sou a Virgem da Caridade". E o mais impressionante é que nem sequer a
orla de seu vestido estava molhada! Fato este tanto mais digno de atenção quando
se considera que os três rapazes tinham ido buscar sal na costa e viram-se
obrigados a permanecer três dias numa cabana, devido à turbulência do mar. Se
uma canoa não podia navegar sem afundar, como explicar que uma imagem de 30 cm
ficasse boiando em águas bravias sem se molhar? Um mistério a mais...
Elucidação de alguns fatos não esclarece
mistérios...
Na feliz época em que a imagem apareceu, no início do
século XVII, a situação era muito diferente da nossa, encharcada de ateísmo. O
sobrenatural era levado muito a sério. Assim, por exemplo, não se pense que os
três rapazes narraram o episódio da aparição e tudo ficou nisso – acreditasse
quem quisesse. Nem falar! Nesse tempo ninguém iria tolerar falsas
“aparições”, feitas sob encomenda para chamar a atenção sobre os
“videntes” e suas “mensagens” intermináveis.
Foi por isso que, apenas conhecida a notícia da aparição
na fazenda onde trabalhavam os três jovens, o superior da propriedade rural
enviou um mensageiro para avisar a autoridade imediata, à qual devia obediência.
Tratava-se do Administrador Real das minas da vila de Cobre – assim chamada devido à abundância desse
metal –, Dom Francisco Sánchez de Moya, o qual indicou as primeiras normas a
serem seguidas no trato com a imagem.
Devia ser construída, logo de início, uma pequena ermida
para abrigá-la, tendo ele enviado uma lâmpada de cobre para iluminar a pequenina
imagem. A seguir, foi nomeada uma comissão formada por pessoas competentes e
presidida pelo sacerdote da Vila do Cobre, que deveria elucidar tudo e elaborar
um relato sobre tão extraordinário fato.
Para tristeza dos ateus e incrédulos do século passado e
do atual, que sempre negaram qualquer seriedade à aparição da imagem, há algum
tempo foram encontrados em Sevilha (Espanha), pelo historiador cubano Dr. Levi
Marrero, os relatórios originais da aparição...
Após interrogar os três rapazes, para ver se caíam em
contradição ou se declaravam algo contrário à doutrina católica, a comissão nada
encontrou que desmentisse o relato da aparição. Contudo, ninguém conseguia
explicar como a imagem da Virgem aparecera no mar.
Milagre indica local escolhido pela
Virgem
Após os interrogatórios, cabia decidir onde deveria ficar
a imagem. “Na fazenda”, diziam alguns; “Na vila do Cobre”,
afirmavam outros. A rigor, ela tinha aparecido no mar, perto da fazenda; mas era
inegável que seu culto seria maior na vila, onde era maior o número de
habitantes. Entretanto a imagem ficara
na pequena ermida.
Certa noite Diego de Hoyos, irmão dos descobridores da
imagem, foi acender a lâmpada da ermida quando notou que a virgem não estava
mais lá... Incontinenti, correu para avisar os moradores da fazenda. Após uma
intensa busca, nada encontraram. Na manhã seguinte a imagem encontrava-se no seu
local, na ermida...
Esse prodígio repetiu-se por três vezes. O que
significava? Mais provavelmente que a imagem queria estar noutro lugar. Por isso
foi trasladada à Vila de Cobre. Entretanto Nossa Senhora havia escolhido outro
local, perto da cidade.
Uma menina da região, de nome Apolônia, comunicou ter
visto a efígie da Virgem nas colinas atrás da Vila. Para assegurar-se de que era
esse o local onde ela desejava ser venerada, foi realizada uma Missa. À noite,
foram vistas três colunas de fogo no mesmo local onde a criança dizia ter visto
a imagem.
Como o fenômeno repetiu-se nas duas noites seguintes, não
restou a menor dúvida. E até hoje lá se encontra a veneranda imagem.
Como surgiu a Imagem?
Persiste até nossos dias um debate sobre a origem da
imagem, pois numa época em que ninguém no Caribe teria capacidade de realizar
uma escultura daquela categoria, necessariamente teria ela sido trazida de algum
outro local. A opinião mais aceita era que o conquistador Alonso de Ojeda a
tivesse deixado em poder dos índios, quando esteve nas costas de Cuba ao início
do século XVI.
Com efeito, esse audaz navegador, após sobreviver a um
naufrágio em região de pântanos e ver morrerem de fome e cansaço vários de seus
homens, foi encontrado pelos índios Cueiba, com os quais estabeleceu boas
relações. Para agradecer o auxílio concedido, presenteou-lhes uma imagenzinha
que tinha trazido da Espanha, ao mesmo tempo em que procurou ensinar-lhes as
verdades elementares de nossa Religião. Infelizmente a barreira da língua
dificultou muito esse trabalho. Mas Ojeda conseguiu que os nativos, sempre que
lhes indicava a imagem, repetissem Ave Maria. Por isso, durante certo
tempo a ilha de Cuba foi conhecida como Ilha da Ave
Maria.
Nem a perseguição comunista conseguiu apagar a veneração
à imagem
A
imagem de Nossa Senhora da Caridade do Cobre sempre ocupou destaque especial na
devoção dos católicos cubanos, a ponto de ser proclamada, em 1916, Padroeira da
Ilha. Se de um lado os milagres operados por ela foram numerosos, infelizmente
também contra ela se manifestaram o ódio e o desprezo. Em 1899, seu Santuário
foi profanado por bandidos, que roubaram as jóias mais valiosas e cortaram a
cabeça da sagrada imagem para retirar um diamante.
Muito pior entretanto é a política satânica do regime de
Fidel Castro contra a imagem, o que tem despertado reação e atos de desagravo.
Não se trata agora de retirar suas jóias, mas pior: impedir a aproximação de
almas que lhe são devotas – verdadeiras jóias espirituais. O governo cubano não
autoriza muitas peregrinações ao local, vigiando de perto os visitantes. Estes
podem ser privados da educação universitária, ou ver-se privados de seu
trabalho, o que – num país onde o único patrão é o Estado – representa uma
tragédia. Além disso, o regime castrista promove todo tipo de imoralidades entre
os jovens para afastá-los das práticas religiosas. Mas mesmo assim não conseguiu
extinguir a devoção à Padroeira de Cuba.
Peçamos a Nossa Senhora que proteja seus filhos fiéis na
ilha-prisão, não permitindo que essa bela devoção caia no olvido. Pois um país
que perde a devoção à sua Padroeira entra em agonia. E nosso anelo é que Nossa
Senhora da Caridade do Cobre volte a reinar na antiga Ilha da Ave
Maria!
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Fontes de referência:
Maria e seus gloriosos títulos, Editora Lar Católico, 1ª edição, 1958.
Maria e seus gloriosos títulos, Editora Lar Católico, 1ª edição, 1958.
Rubem Vargas
Ugarte S.J., Historia del Culto a Maria
en Iberoamérica, Talleres Gráficos Jura, Madrid, 3ª edição,
1956.
D. Eugenia
Guzmán, A Virgem da Caridade e o futuro de Cuba, CubDest, 1999.
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