Teologia Ascética e Mística: Da Parte da Santíssima Virgem, dos santos e dos anjos na vida cristã (Parte I)

Ave Gratia Plena Dominus Tecum (Luc I, 28)
É fora de toda dúvida que não há mais que um só Deus e um só mediador necessário que Nosso Senhor Jesus Cristo: "Unus enim Deus, unus et Mediator Dei et hominum, homo Christus Jesus" (ITim 2,5). Mas aprouve à Sabedoria e Bondade divina dar-nos protetores, intercessores e modelos que estejam, ou ao menos pareçam está mais perto de nós: São os Santos, que tendo reproduzido em si mesmos as perfeições divinas e as virtudes de Nosso Senhor Jesus Cristo, fazem parte do seu corpo místico,  e se interessam por nós, que somos seus irmãos. Honrá-los é honrar o próprio Deus neles, que são um reflexo de suas perfeições; invocá-los é, em última análise, dirigir a Deus a nossa invocações, pois que pedimos aos Santos sejam nossos intercessores perante o Altíssimo: imitar as suas virtudes, é imitar a Jesus Cristo, já que eles mesmo não foram santos senão na medida em que reproduziram as virtudes do divino modelo. Estas devoções aos Santos, a Mãe de Deus ocupa um lugar à parte, exporemos primeiro o seu papel e depois o dos Santos e dos Anjos.

I. Da parte de Maria Santíssima na Vida Cristã

1º O fundamento de sua missão - O papel de Maria depende de sua estreita união com Jesus, ou por outros termos, do dogma da maternidade divina o que tem por corolário a sua dignidade e sua missão de mãe dos homens.

É do dia da Encarnação, que Maria é constituída Mãe de um Filho-Deus, Mãe de Deus, ora se bem repararmos no diálogo entre o anjo e a Virgem, Maria é Mãe de Jesus, não somente enquanto este é pessoa privada, senão em quanto é Salvador e Redentor. "O Anjo não fala somente das grandezas pessoais de Jesus; é o Salvado é o Messias esperado, é o Rei eterno da humanidade regenerada, cuja a maternidade se propõe a Maria... Toda a obra Redentora está suspensa no Fiat de Maria. E disto tem a Virgem plena consciência. Sabe o que Deus lhe propõe; consente no que Deus lhe pede, sem restrição nem condição; o seu Fiat responde a amplidão das proposições divinas, estende-se a toda obra redentora.
Maria é pois, a Mãe do Redentor, e como tal, associada a sua obra redentora; e assim, tem na ordem da reparação o lugar que Eva terá em nossa ruína espiritual, como os santos padres o farão notar com Santo Irineu.

Mãe de Jesus, Maria terá com as três divinas Pessoas as relações mais íntimas: Será a filha muito amada do Pai, e sua associada na obra da Encarnação; a Mãe do Filho, com direito a seu respeito, ao seu amor, e até mesmo na terra a sua obediência; pela parte que terá nos seus mistérios, parte secundária, mas real, será a sua colaboradora na obra da salvação e santificação dos homens; será enfim o templo vivo, o santuário privilegiado do Espírito Santo, e numa acepção analógica, a sua Esposa, neste sentido que, com Ele e em dependência dele, trabalhará para regenerar as almas para Deus.
Imagens da Virgem dos Séculos III e XIII

É igualmente no dia da Encarnação que Maria, é constituída Mãe dos homens. Jesus como dissemos, é o chefe da humanidade regenerada , a cabeça de um corpo místico, de que nós somos os membros. Ora Maria, Mãe do Salvador, gera-o todo inteiramente, e por conseguinte, como chefe da humanidade e cabeça de um corpo místico. Gera pois, também todos os seus membros, todos aqueles que estão nele incorporados, todos os regenerados ou aqueles que são chamados a sê-lo. E assim, ao ser constituída Mãe de Jesus segundo a carne, é constituída ao mesmo tempo Mãe dos membros segundo o espírito. A cena do Calvário não fará senão confirmar esta verdade; no próprio momento em que nossa Redenção vi ser consumada pela morte do Salvador, diz este a Maria, mostrando-lhe São João, e nele todos os seus discípulos, presentes ou futuros: "Eis aí o teu filho; e ao próprio São João: "Eis aí a tua Mãe" (Jo 19, 26-27). Era declarar, segundo uma tradição que remonta até Orígenes, que todos os regenerados eram filhos espirituais de Maria. 

É deste duplo título de Mãe de Deus, e de mãe dos homens que deriva o papel que Mari desempenha em nossa vida espiritual.

(Fonte: Compêndio de Teologia e Ascética e Mística - AD. Tanquerey - 1961)

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