Sexta-Feira da Cruz de Nosso Senhor

CAPÍTULO VII
Do amor de Jesus em sofrer tantos desprezos em sua paixão

1. Diz Belarmino que os espíritos nobres sentem mais com os desprezos que com as dores do corpo, pois se estas afligem a carne, aqueles atormentam a alma, a qual, sendo mais nobre que o corpo,
tanto mais sente as ofensas que lhe são feitas. Mas quem poderia imaginar que a personagem mais nobre do céu e da terra, o Filho de Deus, vindo a este mundo por amor dos homens, tivesse de suportar
deles tantos vitupérios e injúrias, como se fosse o último e o mais vil dos homens. “Nós o vimos desprezado e como o último dos homens” (Is 53,2). Assevera S. Anselmo que Jesus Cristo quis sofrer tantos e tão grandes desprezos que não podia ser mais humilhado do que o foi na sua paixão (In Fl 2). Ó Senhor do mundo, sois o maior de todos os reis e quisestes ser desprezado mais que todos os homens para ensinar-me a amar os desprezos. Já, pois, que sacrificastes a vossa honra por meu amor, quero sofrer por vosso amor todas as afrontas que me forem feitas. 2. E houve também uma espécie de afrontas que não sofresse na sua paixão o Redentor? Foi afligido por seus próprios discípulos. Um
deles o atraiçoa e o vende por trinta dinheiros; um outro o renega mais vezes, protestando publicamente não o conhecer, atestando com isso envergonhar-se de o haver anteriormente conhecido. Os outros discípulos, vendo-o preso e ligado, fogem e o abandonam (Mc 14,50). Ó meu Jesus abandonado, quem tomará a vossa defesa se, no começo de vossa prisão, que vos são mais caros vos abandonam e fogem? E afinal, ó meu Deus, essa afronta não terminou com a vossa
Paixão. Quantas almas, depois de se haverem dedicado ao vosso seguimento e serem favorecidas por vós com muitas graças e sinais especiais de amor, arrastadas por alguma paixão de vil interesse ou
de loucos prazeres, vos abandonaram com ingratidão? Quem se encontrar ao número desses ingratos, diga gemendo: Ah! meu caro Jesus, perdoai-me que não quero mais abandonar-vos; prefiro perder mil vezes a vida a perder a vossa graça, ó meu Deus, meu amor, meu tudo.

Fonte: A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo - Piedosas e edificantes meditações - sobre os sofrimentos de Jesus - Por Sto. Afonso Maria de Ligõrio - Traduzidas pelo Pe. José Lopes Ferreira, C.Ss.R. - VOLUME I

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