Sexta-Feira da Cruz de Nosso Senhor

3. Temos visto a Sabedoria como que enlouquecida pelo excesso de amor, diz S. Lourenço. E de fato não parece uma loucura de amor, pergunta S. Agostinho, um Deus dar-se em alimento às suas criaturas? (In ps. 33 en. 1). E que mais poderia dizer uma criatura a seu Criador? S. Dionísio Areopagita diz que Deus, por causa da grandeza de seu amor, como que caiu fora de sim, pois, mesmo sendo Deus, se fez não só homem, mas até alimento dos homens (Liv. V de div. Nom. p. 4). Mas tal excesso, Senhor, não convinha à vossa Majestade! Responde por Jesus S. João Crisóstomo: o amor não procura razões quando quer fazer bem e manifestar-se ao objeto amado; vai, não para onde lhe convém, mas para onde o arrasta seu desejo (Sem. 147). Ah! meu Jesus, quanto me envergonho ao pensar que, podendo vos possuir, bem infinito, mais digno de amor que todos os outros bens e tão abrasado em amor por minha alma, eu me deixei levar a amar bens vis e mesquinhos, pelos quais vos abandonei. Por favor, ó meu Deus, manifestai-me cada vez mais as grandezas de vossa bondade,
para que eu me abrase sempre mais em amor por vós e mais me esforce para vos agradar. Ah! meu Senhor, que objeto mais belo, mais perfeito, mais santo, mais amável que vós posso encontrar para
amar? Amo-vos, bondade infinita, amo-vos mais do que a mim mesmo e quero viver para vos amar e vós que mereceis todo o meu amor. 4. S. Paulo considera o tempo, em que Jesus nos presenteou
com este sacramento, dádiva que ultrapassa todos os outros dons que um Deus nos podia fazer: (como afirma S. Clemente),o qual sendo onipotente, nada mais tinha depois disso para nos dar, como atesta
S. Agostinho. O Apóstolo nota e diz: “O Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão e dando graças o partiu e disse: Tomai e comei, isto é o meu corpo, que será entregue por vós (1Cor 11,23). Naquela mesma noite, pois, na qual os homens pensavam em preparar a Jesus tormentos e morte, o amante Redentor pensou em deixar-lhes a si mesmo no SS. Sacramento, dando a entender que seu amor era tão grande que, em vez de arrefecer com tantas injúrias, antes mais se acendeu e inflamou com isso. Ah! Senhor amorosíssimo, como pudestes amar tanto os homens, querendo ficar com eles na terra como seu alimento, quando eles vos expulsavam com tanta ingratidão? Note-se, além disso, o imenso desejo que Jesus teve na sua vida de ver chegar aquela noite em que resolvera deixar-nos esse grande penhor de seu amor, declarando no momento de instituir este dulcíssimo sacramento: Desejei ardentemente comer esta páscoa convosco (Lc 22,15). Estas palavras denunciam o ardente desejo que tinha de unir-se conosco na comunhão, pelo grande amor que por nós sentia, diz S. Lourenço Justiniano. E o mesmo desejo conserva Jesus ainda hoje por todas as almas que o amam. Não se encontra uma abelha, disse ele um dia a S. Mectildes, que se precipite com tanto ímpeto sobre as flores para lhes sugar o mel, como eu me dirijo à alma que me deseja, impelido pela violência de meu amor. Ó Deus amabilíssimo, não podeis dar-me maiores provas de vosso amor. Agradeço-vos a vossa bondade. Atraí-me, ó meu Jesus, inteiramente a vós: fazei que vos ame de hoje em diante com todo o meu coração e com toda a ternura. Que os outros se contentem de amar-vos só com um amor apreciativo e predominante: sei que com isso vos contentais; eu só me contentarei quando vir que amo com maior ternura que a um amigo, um irmão, um pai e um esposo. E onde poderei encontrar um amigo, um irmão, um pai, um esposo que tanto me ame, como vós me amastes, meu Criador, meu Redentor e meu Deus, que por mim destes o sangue e a vida e ainda a vós mesmo todo inteiro neste sacramento de amor? Amo-vos, pois, ó meu Jesus, com todos os meus afetos, amo-vos mais do que a mim mesmo. Ajudai-me a amar-vos e nada mais vos peço.

Fonte: A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo - Piedosas e edificantes meditações - sobre os sofrimentos de Jesus - Por Sto. Afonso Maria de Ligõrio - Traduzidas pelo Pe. José Lopes Ferreira, C.Ss.R. - VOLUME I

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