Sexta-Feira da Cruz de Nosso Senhor

6. Refere S. Lucas que, conversando Moisés e Elias no monte Tabor sobre a Paixão de Jesus Cristo, denominaram-se um excesso: “E falaram de seu excesso, que realizaria em Jerusalém” (Lc 9,31).
Com razão, diz S. Boaventura, a Paixão de Jesus foi chamada em excesso, visto ter sido um excesso de dor e um excesso de amor. Um autor piedoso acrescenta: Que mais podia padecer que não sofresse?
O sumo excesso de amor atingiu seu zênite (Constens. 1. 10, d. 4). E não é verdade? A lei divina não impõe outra obrigação aos homens a não ser amar a seu próximo como a si mesmo. Jesus, porém,
amou os homens mais do que a si mesmo, é expressão de S. Cirilo. Por isso, vos direi com S. Agostinho: Vós, meu amado Redentor, chegastes a amar-me mais do que a vós mesmo, já que para me
salvar quisestes sacrificar vossa vida divina, vida infinitamente mais preciosa que as vidas de todos os homens e de todos os anjos juntos. 7. Ó Deus infinito exclama o Abade Guerrico, vós, por amor do
homem (se for lícito dizê-lo), vos tornastes pródigo de vós mesmo. E como não? pergunta, se não só quisestes dar os vossos bens, mas até vós mesmo para reaver o homem? Ó prodígio, ó excesso de amor, digno só de um infinito amor! Quem poderá, mesmo de longe, diz S. Tomás de Vilanova, compreender a imensidade de vosso amor em vos amar tanto a nós, míseros vermes, chegando a morrer e a morrer na cruz por nós? Sim, semelhante amor excede toda medida, toda
inteligência (In Nat. Dom. c. 3). 8. É coisa agradável ver-se alguém estimado por uma alta personagem, tanto mais se esta estiver disposta a felicitá-lo com uma grande fortuna. Oh! quanto mais agradável e estimável nos deverá ser o ver-nos amados por Deus, que nos pode transmitir uma fortuna eterna? Na antiga lei o homem podia duvidar se Deus o amava com ternura. Depois, porém, de vê-lo sobre um patíbulo derramar seu sangue e morrer, como poderíamos ainda duvidar que ele nos ama com toda a ternura possível? Minha alma, contempla o teu Jesus, como ele está pendente na cruz, todo chagado: eis como ele te demonstra bem claramente por suas chagas o amor de que está repleto seu
coração. “O segredo do coração se revela pelas chagas do corpo”, diz S. Bernardo. Meu caro Jesus, aflige-me ver-vos morrer sob a pressão de tantas dores nesse madeiro de opróbrio, mas tudo me consola e me inflama em amor por vós, conhecendo por meio dessas chagas o amor que me tendes. Serafins do céu, que pensais da caridade de meu Deus, que me amou e se entregou a si mesmo por mim?

Fonte: A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo - Piedosas e edificantes meditações - sobre os sofrimentos de Jesus -
Por Sto. Afonso Maria de Ligõrio - Traduzidas pelo Pe. José Lopes Ferreira, C.Ss.R. - VOLUME I

Comentários

POSTAGENS MAIS ANTIGAS